Ele
Carlinhos Brickmann. Se você não era amigo e nem o conheceu, lamento, você não sabe o que perdeu. Ele nos disse adeus no último fim de semana.
Do Jornalista não é preciso que eu fale. Dê um Google aí e leia o que os grandes colunistas disseram dele nos últimos dias; são profissionais que o conheceram muito e que também falam do ser humano Carlinhos Brickmann, o “Caco”, como os mais íntimos o chamavam, um verdadeiro “Mensch (²).
Estava aqui pensando quando foi a última vez que o vi: acho que foi décadas atrás, no restaurante Massimo em São Paulo, onde jantávamos, Jaime Lerner z”l, o Eduardo Brogiollo (também já falecido) e eu. Nessa ocasião o Carlinhos veio à nossa mesa, sentou e nos presenteou com um papo daqueles que só um cara com muita bagagem era capaz de oferecer.
De lá para cá, eventuais telefonemas e a pseudo-proximidade do WhatsApp, essa ferramenta diabólica que aproxima os distantes e afasta os próximos.
Na troca diária de mensagens, além de piadas que nem sempre poderiam ser consideradas “de salão”, havia o intercâmbio de preciosidades garimpadas no YouTube. Na maioria das vezes ele me mandava esmeraldas legítimas e eu devolvia turmalinas daquelas do Fernão Dias.
Pouco antes do início da pandemia estávamos acertando a vinda do Caco para um evento chamado “Brasil e Brasília – Um Espaço Para Debate” que seria patrocinado pela Loja Chaim Weizmann da B’nai B’rith de Curitiba. Infelizmente por problemas de saúde ele não pôde vir.
O escambo eletrônico continuava, cada um tentando surpreender o outro com seus achados, uma batalha injusta onde eu já entrava perdendo. O Carlinhos era uma enciclopédia, ia muito além do verbete, conhecia tudo a fundo. De vez em quando uma conversa de voz, uma piada imoral e boas gargalhadas.
Há algum tempo me incluiu em um grupo onde quase todos se conhecem e muitos conviviam com ele. Agora estou lá sem meu fiador, como cebola em salada de frutas, dependendo da generosidade desses que para sempre serão “meus amigos por parte de Caco”.
Têm sido tristes, os últimos dias. Chove aqui em Curitiba e nos corações dos amigos do Carlinhos.
A propósito disso, quem poderia imaginar que os fabulosos The Platters teriam gravado Chove Lá Fora, do grande Tito Madi? Só outro Grande, o Imenso e Inesquecível Carlinhos Brickmann, que me mandou essa preciosidade e que agora uso para homenageá-lo.
(¹) “z’l” é a abreviação da palavra em hebraico “zikhrono livrakhá” que significa ‘Que sua memoria seja uma benção” e é usada após o nome de pessoas que já faleceram.
(²) “Mensch” é uma palavra iídiche que designa pessoas honradas, íntegras, decentes. É usada com parcimônia e não está relacionada ao sucesso profissional, à riqueza ou status social. Algumas mães judias de antigamente abençoavam seus filhos dizendo “seja um mensch”.