Não é incomum sabermos de histórias de crianças trocadas na maternidade. De vez em quando esses casos aparecem na mídia e ficamos sabendo que a prova do engano veio com os testes de DNA.
Como esse recurso não existia antigamente, é certo que em todo o mundo muitas crianças foram trocadas e viveram com pais, irmãos e famílias às quais não eram ligadas biologicamente. Assim, sempre surgem histórias de crianças que tiveram problemas ao longo de toda vida por terem características físicas muito diferentes dos pais e irmãos .
Há alguns anos, graças ao que podemos chamar de “acaso”, duas mulheres souberam que foram trocadas no nascimento, nos Estados Unidos, em 1945.
A história apareceu em jornal de Minneapolis e começou em 2018, quando testes de DNA confirmaram que Denice Juneski e Linda Jourdeans foram trocadas ao nascer, 72 anos antes.
Denice Juneski e Linda Jourdeans
(Foto: Boyd Huppert, KARE11)
Apenas algumas semanas antes da publicação as duas mulheres descobriram que quando saíram do hospital, não foram para casa com a família certa.
No caminho que as levou a descobrir isso, Denice, uma avó que que morava em Eagan, Minnesota, deu o primeiro passo. Ela tinha uma grande curiosidade acerca de seus ancestrais e resolveu fazer o teste de DNA através do site “23andMe”, na esperança de descobrir que problemas de saúde poderiam ocorrer na sua família.
Algumas semanas depois, quando chegou a lista de pessoas cujo DNA era próximo ao dela, Denice ficou surpresa ao ver que não combinava com nenhum de seus parentes. Na verdade ela se ajustava a várias pessoas, mas nenhuma de quem já tivesse ouvido falar.
Denice fez o teste uma segunda vez, com o mesmo resultado. Aí ela imaginou que ou o laboratório havia cometido um erro ou tinha sido trocada ao nascer.
Nesse momento ela diz que pensou:
– “Se eu cresci na família errada, quem cresceu na minha?”
A resposta veio de 40 milhas de distância, em Hammond, Wisconsin, depois que uma sobrinha da outra mulher, Linda, viu que Denice aparecia em seu próprio relatório de DNA, feito também no “23andMe”
Ela e o marido procuraram a tia e contaram o que havia acontecido, o que levou Linda a fazer o teste imediatamente.
O DNA forneceu a prova. Um segredo de 72 anos havia sido descoberto e Denice e Linda rapidamente juntaram as peças:
– na madrugada de 19 de dezembro de 1945, no Bethesda Hospital em St. Paul, Minesotta, nasceram duas meninas: Denice Mary Mayer às 2:17 e Linda Jean Nielsen, 31 minutos depois.
Provavelmente jamais se saberá como os bebês foram trocados, já que as enfermeiras que cuidaram delas estavam mortas.
Após a revelação, as fotos de família contribuíram de forma engraçada para a conclusão científica do DNA: Linda, ruiva, aparece nos retratos crescendo em uma família de loiras, enquanto Denice, loira, era cercada por morenas e ruivas em fotografias com seus irmãos e primos.
Linda Jourdeans, sentada à direita, era a única ruiva na família
(Foto fornecida por ela, KARE11)
E outros detalhes confirmaram isso: Denice, sem nenhum vigor físico e desinteressada por esportes, cresceu em uma família de atletas. Durante anos seu pai jogou beisebol, assim como seu irmão. A irmã dela está no Hall da Fama do Minnesota Softball.
– “Às vezes eu tinha a sensação de que não me encaixava bem”, disse Denice.
Denice Juneski, a primeira à esquerda, era a única loira na família
(Foto fornecida por ela, KARE11)
Em compensação, Linda era a única atleta de sua família e jogou softball durante 50 anos.
Por sete décadas elas viveram a vida uma da outra, respondendo até mesmo ao nome uma da outra.
A filha de Linda, Michelle, pode ter sido a menos surpresa, porque costumava dizer que a mãe não se parecia com o resto da família. Em 2002 ela chegou a pesquisar os registros públicos de nascimento, mas acabou desistindo.
Desde que se encontraram Denice e Linda estiveram juntas muitas vezes, porque tinham alguém em comum: aos 99 anos e com boa memória, Marianne Mayer ainda pôde receber visitas de Denice, a filha que ela criou, e de Linda, a filha a quem deu à luz. Ela faleceu no ano seguinte, aos 100 anos.
Marianne Mayer, aos 99, recebeu a visita da filha que criou e da que deu à luz
(Foto: Boyd Huppert, KARE11)
Rochelle Nielsen, a outra mãe, morreu de câncer aos 42 anos. Aos 17 anos Linda perdeu uma mãe e aos 72 ela encontrou outra. Apesar do choque, ela e Denice concordaram que era melhor descobrir o erro do que permanecer no escuro e assim começaram a conhecer as famílias às quais deveriam ter pertencido.
Infelizmente em 18/02/2023 Linda faleceu de leucemia.