Boris Adelson, um Vendedor conhecido em sua aldeia por não ter uma mente muito brilhante, estava trabalhando longe de casa, e precisando seguir para Petrogrado, não conseguiu continuar a viagem por causa de uma forte nevasca. O chefe da estação disse que provavelmente os trens voltariam a circular às seis horas da manhã seguinte, depois que a neve diminuísse e os trilhos estivessem limpos e liberados.
O viajante não teve outra alternativa senão ir ao hotel local.
Quando chegou à hospedaria da pequena cidade, soube que todos os quartos estavam ocupados pelos outros passageiros do trem atrasado.
Por sorte o recepcionista era uma alma bondosa que não podia suportar a ideia de deixar um viajante cansado na rua em uma noite tão fria, e teve uma ideia:
– “Olhe, meu amigo, quase todos os quartos aqui têm só uma cama de solteiro, então não posso pedir aos outros hóspedes para te acomodar durante a noite. Mas há um único quarto com duas camas”.
Suspirando de alivio, Boris disse:
– “Graças a D’us! Eu estava com medo de ter que dormir no frio esta noite”.
– “Mas espere um minuto, preciso te dizer uma coisa” – disse o funcionário apressadamente – “o outro hóspede é um general do exército do Czar e vou perguntar se ele concorda em dividir o quarto com você”.
Ouvindo aquilo, todos os temores de antes voltaram a afligir o pobre Vendedor.
– “Não se dê ao trabalho – suspirou resignado – “um general nunca dividiria o quarto com um judeu”.
Tendo dito aquilo, ele pensou por um momento e então seu rosto se iluminou:
– “Olha, eu tenho uma ideia!” – disse excitado – “talvez eu possa dormir naquela cama! É muito tarde, então o general deve estar dormindo profundamente. Amanhã eu tenho que acordar bem cedo para pegar o trem das seis. A essa hora ele ainda estará dormindo e nunca saberá quem estava na outra cama. A única coisa que você precisa fazer é me acordar na hora certa”.
O funcionário do hotel concordou, e silenciosamente Boris entrou no quarto do oficial czarista. Cuidando para não fazer nenhum barulho, quase com medo de respirar, se despiu e foi dormir.
De manhã, na hora marcada, o funcionário acordou o hóspede clandestino no quarto do militar, mas ele, na escuridão da madrugada, involuntariamente vestiu o uniforme do general e correu ao encontro de seu trem.
No caminho ele não pôde deixar de notar que todos que encontrava se curvavam e o cumprimentavam da maneira mais respeitosa. Boris se perguntou:
– “Como eles sabem que eu dividi o mesmo quarto com um general?”
Antes de chegar na estação ainda encontrou um capitão e depois um major, e ambos o saudaram com elegância. Na bilheteria, o agente lhe entregou uma passagem de primeira classe, sem cobrar, e o colocou em um compartimento privado.
Boris estava estupefato e não conseguia parar de pensar no que estava acontecendo:
– “Como é que um judeu é tratado tão magnificamente?” – e perplexo diante da cortesia inusitada e já dentro do trem, em sua ingenuidade imaginou que por ter passado uma única noite com um grande oficial czarista talvez tivesse adquirido uma espécie de aura aristocrática.
Pensando naquilo, entrou no banheiro do camarote para olhar no espelho e examinar suas feições para constatar qualquer possível mudança na aparência. Ao fazer isso, um olhar de choque se espalhou por seu rosto ao reconhecer o uniforme do general:
– “Oy vay” (¹) – ele gemeu – “aquele schlemiel (²) recepcionista! Pedi que me acordasse e em vez disso ele acordou o general!”
E concluiu:
– “Agora, como vou pegar esse trem das seis horas se ainda estou dormindo no hotel?”
(¹) Oy vay é uma frase em iídiche que denota desânimo ou exasperação. Pode ser traduzida como “Ah, não!”
(²) Schlemiel, também em iídiche, significa “trapalhão, “azarado”, “desatento”, “infeliz”. É um arquétipo comum no Humor Judaico.
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2 thoughts on “Boris Adelson, O Judeu Atrapalhado”
Gosto muito de ler artigos sobre os judeus.
Obrigado pelo comentário. Espero que continue me prestigiando com a leitura.