De “Staatenlos” a Nome de Escola

As lembranças do dia de ontem estarão no meu coração para sempre.

Em Ponta Grossa participei da inauguração do “Centro Municipal de Educação Infantil Dr. Isaak Alfred Schilklaper”.

O dono desse nome que as crianças terão dificuldade para soletrar era, para seus familiares, apenas o “Bubi. Para mim e meus irmão, sem o “tio”, ainda que o fosse.

O Bubi sempre foi um irmão mais velho. A tragédia da morte dos meus pais e irmãs encurtou a distância dos 100 quilômetros que nos separavam. Sempre disponível, sempre brincalhão, jamais se deixou abater pelas lembranças tristes ou pelos percalços da vida.

O Bubi veio da Alemanha com 4 anos. Era o longínquo 1934 e ele e minha mãe, então com 9 anos, foram trazidos ao Brasil por meus avós, assustados com o horror que já se prenunciava.

Nos passaportes que guardamos lhes foi negada a cidadania e neles está inscrita a palavra “staatenlos”. Tornaram-se “apátridas”, até que a naturalização em um Brasil generoso com os emigrantes apagou a mágoa. Para eles foi um preço muito pequeno, que milhares de outros judeus alemães pagaram com as próprias vidas.

De Joinville, que diminuiu a dificuldade da língua desconhecida e lhes deu a filha e irmã Nena, vieram para Curitiba, onde por mero acaso e a duras penas formou-se médico, alegria que os pais não puderam ter.

O ano de 1955 foi encontrá-lo em Ponta Grossa, onde os dois únicos Pediatras não davam conta de atender a criançada. Lá ele se fez como profissional e como pessoa, casou com Mara Wagner e assistiu o nascimento de 150 mil crianças, dentre as quais os filhos Selda (homenagem à tia que não conheceu) e Murilo.

Humanista e dedicado à profissão, atendia a todos sem restrição e sem preocupação com retorno financeiro. Deixou aos filhos minúsculo patrimônio e um enorme legado de honra, amor ao próximo e respeito pela vida.

Que homenagem melhor poderia ser dada a quem tanto fez pelas crianças do que ser lembrado por uma Creche, espaço de inclusão e de garantia de oportunidades iguais para todos?

E que alegria maior haveria do que ter na direção do CMEI a Francielle Martins Kreniski, uma das 150 mil princesinas que ele viu nascer e cuidou?

Isaak Alfred Schilklaper. De staatenlos a nome de CMEI. 

Viva o Bubi, para sempre em nossos corações!  

 

One thought on “De “Staatenlos” a Nome de Escola

  • Reinaldo de Almeida Cesar

    Homenagem mais do que justa. O Dr. Isaak foi sempre uma figura referencial em Ponta Grossa, pelo seu caráter, integridade e senso humanitário. Que a bela homenagem reforce ainda mais o sentimento de orgulho da Selda e do Murilo, pelo amoroso pai que tiveram.

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