Dos Meus Guardados: Amar, Mesmo com Dúvidas

Em tempos tão barulhentos, em que o amor é proclamado em todas as redes digitais, mas é esquecido nas salas de casa, tropecei em um conto simples — desses que circulam pela internet sem dono e que guardei há muito tempo. É atribuído à sabedoria judaica, mas poderia ter saído da boca de qualquer avô do mundo, daqueles que não têm pressa de falar e muitas vezes são deixados de lado, mas têm o que dizer.

“Conta-se que um jovem foi procurar um sábio. Estava cheio de incertezas sobre os próprios sentimentos por sua família. Teria deixado de amar? O que estava acontecendo?

O sábio escutou, em silêncio. Depois, resumiu tudo numa única palavra:
— Ame-a.

O jovem protestou, sem entender:
— Mas ainda tenho dúvidas…

E o sábio repetiu, com firmeza tranquila:
— Ame-a.

O silêncio se instalou entre os dois. Até que o velho mestre explicou:
— Amar é uma decisão, meu filho. Não espere que o coração te avise, nem que os sinos toquem. Amar é um verbo. E, como todo verbo, exige ação.

E então, como quem ensina a plantar, ele prosseguiu:
— Amar é como cuidar de um jardim. É preciso arrancar o que não presta, preparar o solo, regar com constância. Não faltará praga, nem excesso de sol ou de chuva. Mas, se você abandonar o jardim ao primeiro revés, nunca verá flores.

A essa altura, já não era preciso dizer muito mais. Mas o velho sábio ainda concluiu:
— Ame. Ou seja: aceite. Valorize. Respeite. Admire. Compreenda. E, se possível, afague. Com palavras ou com silêncio. Mas não espere sentir — aja”.

O conto termina aqui, mas continua fazendo a gente pensar, porque amar, hoje, está mais difícil. Estamos todos ocupados demais, irritados demais, apressados demais. E há uma tendência perigosa: trocar o compromisso pelo impulso. E quando o impulso falha, trocamos a pessoa.

Esse texto, simples e certeiro como um conselho de mãe, relembra o que parece ter se perdido naquela zona nebulosa entre os algoritmos que regem nossas vidas e os fones de ouvido:
Que a vida sem amor não tem sentido.
E mais: que a inteligência sem amor nos torna perversos;
a justiça, implacável;
a beleza, ridícula;
a autoridade, tirana;
e o trabalho, escravo.

O amor não exige certeza. Exige escolha.

Simplesmente ame.
(
Texto adaptado por Gerson Guelmann zs a partir de conto popular sem autoria conhecida, atribuído à tradição judaica)


Foto: Freepik

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *