Pedinte Abusado à Moda Judaica
As histórias de hoje são sobre Jacob, um Schnorer (1) de uma aldeia na velha Polônia, habitada principalmente pelos judeus:
* Jacob, conhecido como uma espécie de Schnorer oficial da aldeia, tinha um irmão, Moiche, que não por acaso também se dedicava ao mesmo “ofício”.
Todos os meses os dois visitavam o escritório de um filantropo milionário conhecido como Reb (2) Leizer, que dava 100 rublos para cada um.
Em uma dessa ocasiões eles receberam seus donativos perto da hora do almoço e ao chegarem à rua foram atraídos pelo cheiro que vinha de um restaurante finíssimo ao lado do escritório.
Famintos, entraram, sentaram e pediram o prato mais caro do cardápio, o pato recheado.
Como normalmente o Schnorrer também é um Schlemazel (3), o benfeitor dos irmãos resolveu comer no mesmo restaurante naquele dia.
Ao entrar deu de cara com os dois irmãos exatamente no momento em que o garçom garbosamente trazia o pato.
Obviamente o patrício ricaço ficou indignado:
– “Então é para isto que eu lhes dou um donativo todos os meses? Para vocês esbanjarem comendo o prato mais caro de um dos restaurantes mais luxuosos da cidade? Decididamente vocês não precisam de minha ajuda!”
Os dois se levantaram rapidamente, muito assustados, e Jacob, entre aturdido e indignado, redarguiu:
– “Meu caro Reb Leizer, me explique, pelo amor de D’us: se quando eu não tenho dinheiro não posso comer um pato e quando tenho também não posso, guevald! (4)! Quando é que vou poder comer um pato assado?
* Algum tempo depois, Moiche, o irmão do Jacob, adoeceu e veio a falecer.
Jacob, é claro, sentiu muito a perda do irmão e parceiro, mas nem por isto deixou de comparecer ao escritório de Reb Leizer no dia estabelecido para receber a “mensalidade”.
O generoso benfeitor há muito não tinha tempo de receber pessoalmente seus assistidos e havia passado a tarefa à sua Secretária, à qual Jacob se apresentou, cabisbaixo e sem esconder a tristeza.
A funcionária abriu a gaveta e lhe deu o envelope de sempre, onde constava seu nome.
Ao abri-lo e constatar que havia apenas uma nota de cem rublos, Jacob passou rapidamente de consternado a contrariado e exclamou:
– “Diga-me, caríssima Senhora, onde estão os 100 rublos do meu irmão?”
A Secretária, apesar de saber do ocorrido, não queria esconder o tom de ironia e desprezo, e respondeu:
– “Não o estou vendo por aqui para entregar-lhe seu dinheiro!”
O Schnorer redarguiu:
– “Realmente isto seria impossível, visto que meu querido irmão faleceu há poucos dias!”
– “Se ele faleceu, parece-me que isto encerra nossa conversa, não há nada mais a pagar-lhe!” – ela disse triunfante.
E nosso Jacob, com a lógica característica do ofício, perguntou:
– “Então me responda, por favor: quem é o herdeiro do meu irmão, eu ou Reb Leizer?”
Notas Explicativas:
(1) “Schnorer” em iídiche, é uma pessoa esperta que vive a custa de seus conhecidos, especialmente patrícios mais bem situados, arrancando deles dinheiro e vantagens de qualquer maneira, muitas vezes com um certo ar de direito. O Schnorer se distingue do pedinte comum por sua ousadia sem limites, de maneira que a expressão não se aplica à mendicância propriamente dita. Também pode ser usada para definir a pessoa que tem o hábito de obter coisas como comida, ferramentas, utensílios, etc., pedindo-as emprestadas educada e insistentemente mas sem intenção de devolução. Um exemplo bem divertido é o que o comediante judeu Jerry Seinfeld deu ao igualmente cômico e judeu Martin Short, que lhe pediu para definir o Schnorer:
– “o Schnorer é o cara que pega todas as castanhas de caju dos mix de nozes”.
(2) “Reb” é uma forma de tratamento judaico tradicional, correspondente a “Senhor”, usada normalmente antes do nome ou sobrenome para um homem que não é um Rabino.
(3) “Schlemazel” ou “Schlemiel”, também em iídiche significa “trapalhão, “azarado”, “desatento”, “infeliz”. É um arquétipo comum no Humor Judaico.
(4) “Guevald” significa “socorro”.
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