Em todos os mandatos de Prefeito o Jaime Lerner contou com a colaboração do Engenheiro Dr. Dario Lopes dos Santos, servidor de carreira. Esse grande homem prestou serviços extraordinários à Cidade e ao Estado e empresta seu nome a uma importante avenida de Curitiba.

O Dr. Dario era uma pessoa fabulosa e lamento só tê-lo conhecido quando assumi a Chefia de Gabinete na 3ª e última gestão do Jaime. Ele comandava o grupo que recebia as pessoas com ou sem agenda marcada com o Prefeito e invariavelmente solucionava problemas ‘de grande potencial explosivo’, como sabem todos os que já estiveram nessas posições. Seu bom humor, paciência e gentileza no trato dos companheiros de trabalho e das pessoas que o procuravam eram notáveis. Para quem debutava no serviço público em posição de muita responsabilidade, ter o Dr. Dario alí perto representava uma segurança extraordinária. Não consigo imaginar como teria sido meu trabalho sem ele. 

Nos idos de 1972, no 1º mandato do Jaime, o Dr. Dario era o Diretor do Departamento Rodoviário Municipal. O órgão era responsável pela construção e manutenção das ruas e estradas (sim, a Curitiba de então ainda tinha estradas…) e um dia ele foi despachar levando um ‘abaixo-assinado’ que deixou o Prefeito surpreso. Explico, aos mais moços: o documento era uma espécie de petição coletiva que as pessoas assinavam para pedir uma obra viária, uma Escola, uma linha de ônibus, um posto de saúde, etc., ou então para reclamar de alguma coisa errada, mas naquele caso o espanto do Prefeito era justificado, porque os moradores pediam que fosse suspensa obra de pavimentação de rua no bairro onde moravam.

Lendo o documento o Jaime entendeu a razão do pedido inusitado:
– ali havia uma nascente de onde brotava uma água tão pura que não só as pessoas que moravam mais perto como de bairros mais distantes iam buscar água em baldes e garrafões; como a obra exigiria um corte profundo do terreno para a implantação do asfalto, era quase certo que o veio d’água seria interrompido. 

O Prefeito ainda novato mostrou na hora qual seria seu estilo de administrar: no lugar onde os despachos eram escritos à mão, escreveu:
– “ao DRM/Dr. Dario, para não fazer nada, com urgência.”

A obra foi cancelada e os moradores continuaram bebendo água pura, como exemplo do primado do trabalho do Jaime: o Homem como prioridade.

Como disse, uma característica notável do Dr. Dario era o bom humor. Uma vez, com um grupo de amigos, em um restaurante onde os pratos estavam demorando, ele chamou o garçom e perguntou:
– “Meu filho, será que não faz mal comer em jejum?”

Tempos atrás, coletando informações sobre ele, consultei o Engº Mario Marcio Archegas Ferreira, servidor aposentado da Prefeitura e com o qual também tive o prazer de trabalhar. Esclareci um detalhe e ainda ganhei uma saborosa história tendo como personagem nosso sempre bem-humorado amigo. O Mario Marcio, que era o Engenheiro-Chefe do 5º DRM à época do ocorrido, contou:
– “Dr. Dario era terrível. Um dia me ligou no DRM:
– Mario, me ligaram falando que tem muitos buracos na cerca na rua Nicola Pelanda.
– Como é?  – perguntei, surpreso.
– É verdade, estão na cerca esperando você tapar os buracos da rua, daí abre vaga, eles pulam da cerca e vão prá rua.
Não vou contar o que pensei na hora.”

Foto: Yaroslav B – FreeImages