Na última sexta-feira, 1450 dias após o falecimento de Jaime Lerner, Curitiba deu um passo simbólico — e necessário — para reconhecer a importância de quem protagonizou a maior transformação urbanística de sua história.
Por deferência do Prefeito Municipal de Curitiba, Eduardo Pimentel Slaviero, tive a honra de acompanhar a audiência que concedeu às filhas do Jaime, Andrea Lerner e Ilana Lerner Hoffmann. Estiveram conosco a ex-vereadora Julieta Reis, com longa e respeitada trajetória na Câmara Municipal; Marcos Bento, artista plástico e designer que colaborou com Jaime, especialmente em sua primeira gestão; e o escultor Elvo Benito Damo, cujo talento já se faz presente em vários cantos da cidade. Também participou do encontro Marino Galvão Júnior, presidente da Fundação Cultural de Curitiba. Julieta, uma amiga de muito tempo e Vereadora em Curitiba por diversos mandatos, registrou voto de pesar da Câmara de Curitiba quando do falecimento do Jaime; seu filho, o ex-Vereador Rodrigo Reis, foi o autor do Projeto de Logradouro Público aprovado na última legislatura.
Na ocasião, apresentamos ao Prefeito a proposta de execução de uma escultura em bronze em homenagem a Jaime, a ser realizada por Elvo. A ideia, concebida por um grupo de amigos e admiradores, foi de pronto acolhida — e, com grandeza, o Prefeito fez questão de enfatizar que a homenagem será da Cidade, não apenas de um grupo, assegurando que a Prefeitura responderá pelos custos.
O monumento será instalado na Rua das Flores, local emblemático onde teve início, ainda nos anos 1970, a revolução urbanística que colocaria Curitiba no mapa mundial da inovação urbana. Para quem viveu de perto essa transformação — como eu tive o privilégio de viver —, é impossível passar pela Rua XV sem lembrar de sua ousadia, de seu amor pela cidade e de sua capacidade de imaginar o futuro e executá-lo com uma simplicidade genial.
O fechamento da via para os carros, em 1972, causou polêmica na época. Hoje, é símbolo de Curitiba — assim como o sistema de transporte em canaletas exclusivas, os parques urbanos, as estações-tubo que ao permitir embarque e desembarque no mesmo nível garantem rapidez e segurança aos passageiros dos ônibus, e tantas outras ideias que nos projetaram como referência internacional em planejamento urbano e mobilidade.
Muito já se falou sobre Jaime Lerner em publicações acadêmicas e reportagens no mundo inteiro. Faltava — e ainda falta — o reconhecimento institucional de sua própria cidade. Por isso, o gesto do atual Prefeito tem um valor que vai além da escultura: é um ato de grandeza, o início de uma reparação e uma notícia que faz bem ao coração de todos nós, às vésperas do quarto aniversário de sua partida.
A memória de Jaime não exige estátuas. Mas Curitiba, esta cidade tantas vezes celebrada por suas soluções criativas e humanas, deve muito ao homem que a reinventou. Que esta homenagem ajude a lembrar — e a inspirar.