Os Muitos Mandamentos do Curitibano(a)

Em 2019 compartilhei no meu blog o texto “Os 24 Mandamentos Curitibanos”, publicado por Solan Valente no portal Busão Curitibano. Na ocasião, fiz uma inclusão no 13º mandamento, porque achei que o protagonismo das capivaras devia ser lembrado, e acrescentei também o 25º, o 26º e o 27º.
Depois descobri que, antes, em 2015, Cássio Ferreira, no mesmo Busão Curitibano, apresentara o que parece ser a primeira lista. Ainda em 2019, Daniela Crivari de Resende, no LinkedIn, e novamente Cássio Ferreira, também no Busão Curitibano, postaram novas versões. O último registro encontrado é de 2020, novamente de autoria de Cássio Ferreira.

Assim, com os devidos créditos, apresento uma coletânea tão atualizada quanto possível – sujeita, é claro, a colaborações, correções e comentários de todos. São divertidos, e os já conhecidos caíram no gosto dos que nasceram ou escolheram Curitiba para viver (azar é deles, dirão alguns…).
Ah, é preciso dizer que não são apenas mandamentos: podemos também dizer que podem ser considerados um código de posturas, manual de conduta ou retrato do curitibano(a). Vamos lá?

1. Não tirarás pra loke, piá tongo.
2. Não olharás para o Oilman¹ como um jacu do mato.
3. S
obreviverás ao efeito chicote do biarticulado; saberás que não pagar a passagem ou danificar ônibus, terminais e estações-tubo encarece a tarifa; respeitarás a fila no ponto e só ousarás furá-la uma única vez; serás esmagado pela porta do ligeirinho e viverás para contar – até porque, em horários de pico, “andar de ligeirinho” e “ser esmagado pela porta” é a crônica de um acidente anunciado; inevitavelmente marcarás encontros no terminal e levarás o parente de fora para conhecer a estação-tubo.
4. N
ão cortarás uma araucária – ou viverás o inferno, aqui e na eternidade.
5.
Cruzarás a Rua XV e resistirás ao assédio para fazer o cartão da C&A.
6.
Não matarás uma capivara, mas farás dela esculturas e estampas em camisetas, canetas e chaveiros.
7.
Jamais chamarás vina de salsicha – até porque “salsicha” é apelido usado em outras cidades – e, claro, gostarás de pão prensado com duas vinas.
8.
Acreditarás que o bilhete da Borboleta 13² é o último.
9.
Tretarás quando falarem mal de Curitiba, porque somente aos nativos é dado esse direito.
10.
Não darás bom dia, jamais falarás com estranhos e não criarás vínculos afetivos com pessoas que acabaste de conhecer; mas, quando a barreira da falta de intimidade for rompida — tempo que gira em torno de dez anos – serás um dos melhores e mais fiéis amigos que alguém poderá ter; aos curitibanos concederás um abraço em eventos muito específicos, e neles poderás dar um único beijinho.
11.
Só virás à casa da gente se provares que não és um psicopata – e jamais chegarás de sopetão; terás que avisar, pra gente varrer a calçada.
12.
Levarás contigo, ou terás sempre no carro, uma japona, uma blusinha fresca e um guarda-chuva.
13.
Comerás pinhão mesmo sem gostar e, até o fim dos teus dias, colecionarás receitas com essa estranha iguaria.
14.
Participarás de vaquinhas da firma – ou da repartição – para ajudar alguém que não conheces ou uma instituição que protege alguma coisa da qual nunca ouviste falar.
15.
Terás corpo fechado e, no Barigui, não serás atacado pelo jacaré nem pelos gansos homicidas, mas correrás como louco quando fores atacado pelos malditos quero-queros ao te aproximares dos ninhos.
16.
Jamais resistirás à pipoca com bacon da Praça Rui Barbosa.
17.
Acharás uma ideia fabulosa, mas jamais andarás na Linha Turismo; ainda assim, sempre dirás: “Na próxima visita de um parente de fora, vou fazer esse bendito passeio – e quem sabe ainda descer a serra de trem…”
18.
Serás afligido, no mesmo dia, por geada, sol escaldante e tempestade extratropical (terás diariamente a sensação do Natal, como costumam ter os parentes nórdicos do Papai Noel).
19.
Viverás enfiado – ou tropeçarás – em farmácias, na cidade que certamente tem a maior relação delas por habitante; e muitas vezes as usarás como supermercado.
20.
Pronunciarás a vogal “E” em todo o seu esplendor e sempre falarás frases com “piá”, “guria” e “né”. Surtarás ao ver papel de bala no chão; catarás e jogarás na lixeira mais próxima (isso se não guardares no bolso para jogar em casa) e, claro, atribuirás a porquice a um estranho.
21.
Contarás onde teus antepassados estavam na neve de 75.
22. Amarás a Rua XV e emocionar-te-ás ao vê-la coberta de cerejeiras; saberás contar como Jaime Lerner a fechou e fez a Rua das Flores em um único fim de semana.
23. Já terás visto pelo menos uma vez um serelepe em um parque ou bosque.
24.
Reclamarás do pedágio da 277.
25.
Dirás que estás enjoado da comida de Santa Felicidade, mas todos os anos levarás a família para comer lá no Dia das Mães.
26.
Conhecerás todos os lugares onde é possível comer a melhor carne de onça.
27.
Repartirás os gomos da mimosa com o piá morto de fome.
28.
Se estiveres pelo centro, não deixarás de tomar o quentão na Feira de Inverno da Osório.
29.
Convidarás o amigo que não vês há muito tempo para tomar um café com chineque — mas nunca passarás o endereço, muito menos marcarás a data.
30.
Correrás para dar uma bolacha ao amigo que está com a glicose baixa.
31.
Dirás que viu uma besteirinha na feirinha do Largo que é a cara de alguém.
32.
Conhecerás a delícia de tomar sorvete no inverno.


¹ Oilman: apelido de Nelson Rebello, uma figura lendária que andava de bicicleta pelas ruas de Curitiba, sempre vestido com tanga e o corpo untado com óleo bronzeador, mesmo no inverno. Faleceu em 29/03/2025. 
² Borboleta 13: Teresinha Leonice Hevane dos Santos, vendedora de bilhetes de loteria no calçadão da R. XV, no centro de Curitiba, também falecida, era conhecida como “Borboleta 13” e “mulher da cobra”, por usar os bordões “borboleta 13” e “olha a cobra, corre hoje”.

2 thoughts on “Os Muitos Mandamentos do Curitibano(a)

  • JOHNY

    Vamos lembrar da boca maldita

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  • Reco

    Perfeito! Só não entendo porque na 2ªpessoa, como gaúchos e catarinas. Nossa piazada não fala assim.
    Mas vamos ao rodízio de sopas, tomamos sorvete no Gaucho.

    Responder

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