O subtítulo da minha coluna de hoje poderia ser: “É bom saber quem dobra teu paraquedas” — e você vai entender por quê.
Como a gente sabe, a vida sempre nos mostra como dependemos de outras pessoas para nossa sobrevivência — literal ou emocionalmente. O que acontece é que, mesmo sem perceber, frequentemente nos defrontamos com heróis desconhecidos que salvam vidas sem que saibam disso. E muitas vezes seguimos em frente sem sequer distingui-los.
Então, é preciso exercitar a gratidão — tanto a que se manifesta em gestos e palavras, como a que começa dentro de nós, com a consciência.
Lembrei disso ao ler uma história real, relatada pelo capitão Charles Plumb, piloto da Marinha norte-americana que combateu no Vietnã. Formado na Academia Naval de Annapolis, tornou-se piloto de caça e voou o F-4 Phantom em 74 missões de combate bem-sucedidas sobre o Vietnã. Na 75ª, faltando cinco dias para o retorno para casa, foi abatido. Após saltar de paraquedas, foi capturado, torturado e aprisionado em uma cela de 2,5 por 2,5 metros, onde passou 2.103 dias (quase seis anos) como prisioneiro de guerra em campos comunistas no Vietnã do Norte.
Durante esse período, Plumb se destacou entre seus companheiros como especialista em comunicação clandestina e atuou por dois anos como capelão no campo onde estava preso. Após retornar aos Estados Unidos, tornou-se um dos palestrantes motivacionais mais requisitados, com mais de 5.000 apresentações que revelam uma personalidade sincera, direta e bem-humorada.
Ele conta que, anos depois de retornar, jantava com a esposa num restaurante quando um homem o abordou:
— Olá, você é Charles Plumb, era piloto da Marinha e foi abatido no Vietnã, não é mesmo?
— Sim. Como sabe? — perguntou Plumb.
— Nossa, eu servia naquele porta-aviões, sempre o admirei. Era eu quem dobrava o seu paraquedas. Parece que funcionou bem, não é verdade? — o senhor respondeu.
Plumb diz que quase ficou sem palavras com a surpresa. Com gratidão e emoção, respondeu:
— Claro que funcionou… Caso contrário, eu não estaria aqui hoje!
Ele conta que, naquela noite, não conseguia dormir, pensando em quantas vezes viu aquele homem no porta-aviões e nunca lhe deu nem um “bom dia”…
— Eu era um piloto arrogante, e ele, um simples marinheiro — pensou, refletindo sobre as horas em que aquele homem trabalhou silenciosa e anonimamente, enrolando os fios de seda de tantos paraquedas, tendo nas mãos a vida de alguém que sequer conhecia.
Desde então, Plumb passou a abrir suas palestras com a mesma pergunta:
— Quem dobrou o seu paraquedas hoje?
Essa história faz a gente lembrar que, inevitavelmente, em algum momento precisaremos de alguém que dobre nosso paraquedas — alguém que nos sustente, nos apoie, mesmo sem aplauso, sem selfie, sem palco. E, é claro, nos faz concluir que muitas vezes seremos essa pessoa para alguém.
Então… que a gente não se esqueça dos “invisíveis” da vida. Eles merecem mais que gratidão silenciosa. Merecem reconhecimento, mesmo que seja um simples…
“obrigado”.