Meu artigo de hoje serve à perfeição para a Rosane, minha mulher. Ela é daquelas pessoas que entram no avião, sentam, colocam o cinto e dormem antes mesmo da decolagem, como se estivessem na própria cama. Esse comportamento pode ser interpretado como um exemplo de coragem indômita ou, talvez, falta de noção das coisas, desapego à vida… Sei lá.
Eu, ao contrário, acho que não dá para confiar em um veículo que anda lá em cima e a oficina fica aqui embaixo. Também posso dizer que sei nadar e caminhar, mas não sei voar. Questão de bom senso, apenas. No meu caso, isso vale para voos curtos ou longos. Experiência de quem foi para o Japão e não pregou o olho.
Nessa viagem, aliás, talvez por um castigo enviado do além por Santos Dumont, houve uma escala não programada em Lima, o que aumentou a duração da jornada em algumas horas. Sempre que falamos sobre isso, digo que um dia a Rosane ainda será acordada pelo pessoal da limpeza, na “garagem” do avião — e agora tenho como provar.
Encontrei matéria publicada pela BBC News em 2019 relatando o caso da Sra. Tiffani Adams, que fez um voo de Quebec a Toronto pela companhia Air Canada no dia 9 de junho daquele ano. Ela dormiu durante a viagem e, quando acordou, horas após o pouso, por volta da meia-noite, estava com frio, com o cinto afivelado e numa escuridão total (aqui eu pergunto: – “Precisava dormir em um voo de 1h30?”).
A passageira ligou para uma amiga e explicou onde estava. A ligação durou menos de um minuto, pois a bateria do celular acabou, mas foi tempo suficiente para informar sua localização. Enquanto a amiga fazia contato com as autoridades do aeroporto de Toronto, Tiffani conseguiu encontrar uma lanterna e sinalizou para o operador de um trator de transporte de bagagem, que a resgatou.
A assustada Sra. Tiffani disse que a Air Canada ofereceu hospedagem em um hotel, para onde seria levada por uma limusine, mas ela recusou. Relatou ainda que recebeu dois pedidos de desculpas e foi informada de que a companhia estava investigando o ocorrido. Na época, declarou a uma rede de TV que estava tendo dificuldades para dormir e sofrendo com pesadelos frequentes.
Não sei qual foi o resultado da investigação, mas não consigo conter meu comentário:
— Quem mandou?
p.s.: Pelo menos esse risco a Rosane não corre, desde que eu esteja junto.
Mínimas Que São o Máximo
“Se você for ao médico e contar só metade dos sintomas, ele fará um diagnóstico pela metade e te dará meia receita.”
(Eduardo Luiz Brogiollo)