A Casamenteira judia da aldeia estava ficando velha e não podia mais se locomover como costumava fazer.

Depois de pensar muito ela concluiu que estava na hora de contratar um jovem assistente que a conduziria na carroça e a ajudaria nas visitas às famílias dos patrícios, para mais tarde assumir o negócio. 

O rapaz, é claro, não sabia nada sobre o trabalho e ela teve que começar do zero, ensinando-lhe todos os fundamentos do ofício.

No primeiro dia ela começou explicando:
– “O mais importante é o exagero. Você tem que acentuar os predicados dos candidatos”.

E o rapaz, que não queria perder o emprego e estava ansioso por começar, acenou com a cabeça, dizendo:
– “Sim, eu entendo”.

No dia seguinte a Casamenteira pediu ao rapaz que a acompanhasse na visita à uma família rica que tinha um filho único.

Já no caminho ela lembrou:
– “Não se esqueça; seja entusiasmado e não hesite em exagerar”.

Quando chegaram na casa dos pais, ela começou a descrever a possível noiva:
– “Encontrei a garota certa para seu filho. Ela vem de uma família muito boa”.

Fazendo a primeira intervenção, o assistente disse:
– “Sim, gente de primeiríssima! Eles são descendentes dos Guggenheims”.

A Casamenteira, lançando um olhar de aprovação ao rapaz, continuou:
– “E a moça é rica também, a família tem um grande comércio na aldeia vizinha”.

Foi a vez do rapaz intervir:
– “Ricos? Estamos falando de multimilionários. Eles têm muitas propriedades”.

A essa altura a mulher, vendo que o assistente tinha queda para o negócio, disse:
– “E ela é muito bonita”.

Mal acabou de dizer, o auxiliar completou:
– “Bonita é pouco para descrever a moça. Ela é maravilhosa!”

Nesse momento a Casamenteira teve certeza de que tinha escolhido a pessoa certa para trabalhar com ela.

Sentindo que estava prestes a concluir o negócio, decidiu fazer uma observação final:
– “Mas devo dizer à vocês” – e nesse momento deu uma piscadela ao assistente – “Que ela tem uma pequena deficiência. Há uma ligeira ondulação nas costas dela, como se fosse uma pequena verruga”.

O auxiliar também percebeu que era o momento de fechar o contrato e, para encerrar a participação no negócio com chave de ouro, exclamou:
– ”Uma verruga? O que você quer dizer com verruga? É uma corcunda normal!”

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Foto: Cottonbro – Pexels