A maioria de nós conhecemos a fábula de Esopo, recontada por La Fontaine, cuja “moral da história” pode ser definida como “quem planta se dá bem, e os preguiçosos colhem o que merecem”. Após a chegada das redes sociais apareceu uma versão bem-humorada mostrando que ao contrário da história original, a “festeira” Cigarra é quem se deu bem, para desconsolo da “trabalhadora” Formiga. Não se sabe quem é o autor da versão, que publiquei em meu Blog em 2018 e que agora “repaginei” para deixá-la mais atual:
“Era uma vez uma Formiga chamada “Zélia Hora Extra” e uma Cigarra chamada “Gabi Vida Louca”. Elas viviam em Curitiba e ainda que tivessem estilos de vida muito diferentes, eram bem amigas.
Durante todo o verão, a Formiga não tirava a bunda da cadeira, trabalhando que só uma condenada. Guardava comida como se o apocalipse é que estivesse por chegar e não o inverno. Quando Gabi reclamava que ela não curtia o Parque Barigui, nunca ia ao Jardim Botânico, e nem aparecia nas baladas no Largo da Ordem para tomar uma cervejinha “cazamiga”, respondia:
– “Olha… O outono está acabando, o inverno vai chegar…” Tempo é dinheiro” e “trabalho em dobro hoje pra descansar amanhã.”
Enquanto isso, a Cigarra… Ah, a Cigarra era aquela figura! Sambista inveterada, não perdia um pagode, um forró, uma roda de samba. Conhecida em todos os botecos da região, vagava entre eles sempre com um violão debaixo do braço e uma música nova na ponta da língua. Amiga dos proprietários, comida não era problema para ela, que também sempre conseguia um lugar para dormir.
Chegou o inverno, que naquele ano foi tipicamente curitibano, e a cansada Formiguinha se enfiou em seu pequeno e aconchegante refúgio lá pelas bandas do Novo Mundo, com a despensa cheia de mantimentos, pijama de pelúcia e, importante, com a Netflix em dia.
Mal tinha começada a nova estação (a propósito, não é verdade que em Curitiba só hajam duas, a RodoFerroviária e o Inverno) “Zélia Hora Extra” ouviu uma buzina diferente lá fora e alguém que a chamava por seu nome. Quando foi ver, quase caiu pra trás: era a Cigarra “Gabi Vida Louca”, toda produzida, dentro de uma Land Rover Evoque branca, com uma mala Ika no banco de trás.
Baixando o vidro, disse:
– “Ô Formiguinha, minha querida! Tô indo fazer uma turnê, começo por Salvador, depois outras capitais do nordeste e, se der tempo, Rio e São Paulo na volta… Posso deixar minhas coisas com você?”
A Formiga, boquiaberta, só conseguiu gaguejar:
– “M-mas como assim? Você que só vivia no samba enquanto eu me matava de trabalhar… Como conseguiu isso tudo?”
A Cigarra soltou uma gargalhada gostosa:
– “Então, minha linda… Lembra que te contei daquele samba que eu fiz naquele bar lá na Mateus Leme? Postei um vídeo cantando no TikTok, viralizou, um empresário gostou do meu som, fechou um contrato comigo na hora e me convidou para essa turnê. À propósito, quer alguma coisa daquelas bandas?”
A Formiga, ainda atônita, respondeu:
– “Quero, sim. Se encontrar o La Fontaine por lá, manda ele ir para a puta que pariu!”
Jean da La Fontaine
∗ Château-Thierry, França – 08/07/1621 – † Paris, França – 13/04/1695