A Comunicação nos Tempos dos Rádios de Bateria

De vez em quando escrevo aqui sobre o tempo em que administrei a antiga Fazenda Guavirova que a família Guelmann possuía no Município de Ponta Grossa.

Já contei o “causo” do “Compadre Olegário” e o desastrado passeio em Palmeira, cidade próxima, que você poderá ler seguindo o link no final desta postagem. 

Foram quase 10 anos de convivência com uma gente maravilhosa, um período que acrescentou muito à minha vida e me marcou para sempre. Lembrar aquela época emociona e aquece o coração.

Alguns fatos eu vivi ou presenciei, e outros são histórias ouvidas naquela época. A de hoje é bem representativa da ingenuidade e do humor do povo da região.

Ponta Grossa tinha uma infinidade de propriedades rurais espalhadas por toda a extensão do município. Algumas eram fazendas de grande produção rural ou de criação, outras eram sítios e chácaras menores e no geral não se via área de terra que não estivesse ocupada.

Eram tempos sem celular e a comunicação entre as pessoas da área rural era feita de uma forma muito criativa e que era usada em todo o país: através das emissoras de rádio, que reservavam espaço na programação para a transmissão de recados. Ainda não havia FM, mas as rádios em AM tinham bom alcance. 

É bom lembrar que não havia energia elétrica na maioria desses lugares. Os aparelhos de rádio funcionavam com baterias de automóveis, que de tempos em tempos eram levadas para ser carregadas na cidade. Algumas propriedades dispunham de pequenos geradores eólicos, os “cataventos” que permitiam o uso contínuo. Mais tarde surgiram os aparelhos a pilha e só depois as áreas rurais receberam a eletrificação. 

A cidade de Ponta Grossa era um entrocamento ferroviário importante e tinha um comércio forte, e assim as pessoas que viviam nos lugares mais afastados ou nos municípios vizinhos iam à cidade para compras, atendimento de saúde, etc.

Os sábados eram os dias de maior movimento, e era quando as pessoas aproveitavam para ir nas “estações de rádio” para deixar suas mensagens para serem transmitidas nos horários reservados para isso.

A natureza dos recados era a mais variada: ia da manifestação da saudade de namorados e familiares distantes às felicitações de aniversário, passando pelo anúncio de viagens, convites para festas, compra e venda de animais, etc. Não era incomum também a cobrança de devedores recalcitrantes.

Claro que era um campo fértil para recados muito engraçados e relatos de situações que beiravam o tragicômico. Alguns exemplos:

– “Atenção capataz Lindolfo da fazenda Forquilhinha: o seu Pedro e o seu Roberto avisam que de acordo com o combinado na próxima segunda-feira estarão aí para marcar o gado”.

– “Antônio Ribeiro de Uvaia avisa o compadre Inácio na fazenda Morada Nova que o capado já engordou e segue no trem de quinta-feira”.

“Essa vai para o Francisco que reside na fazenda Arvoredo: o Gabriel avisa que o seu Acácio já foi medicado e está se recuperando. Parece que dessa vez ele escapa”.

“Dona Gertrudes do Guaragi manda avisar sua irmã Raimunda que o batizado do nenê da Teresa vai ser no outro domingo e se ela quiser vir antes para trazer as galinhas, tem onde pousar”.

Agora a melhor de todas elas e que me foi contada como verdadeira, teria sido transmitida pela Rádio Clube Pontagrossense:

“Ernesto Rodrigues de Itaiacoca avisa seu primo Juvenal na fazenda Capão Bonito que sua mãe morreu. No mais tudo bem”.

Para ler sobre a ida do Compadre Olegário à Palmeira, clique aqui.

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