A Humanidade e Israel, Por Cíntia Moscovich (*)

Devidamente autorizada pela autora, transcrevo o artigo de Cíntia Moscovich e publicado em sua coluna do jornal Zero Hora na última segunda-feira.

“Na semana que passou, quando da transferência da embaixada americana para Jerusalém, a Faixa de Gaza fervilhou: embates de árabes-palestinos, comandados pelo governo do Hamas, e o exército israelense resultaram em cerca de 60 mortos e mais de dois mil feridos. O mundo, assombrado, se voltou contra Israel, acusando-o de abuso da força.

Mesmo que pareça bizantinice, vou expor alguns fatos que merecem voltar à cena. Se me permitem.

Ao fim da Segunda Guerra, quando se pode avaliar os resultados da sanha nazista naquilo que passou a se chamar de Shoá (Holocausto), o mundo considerou que os judeus sobreviventes e sua descendência necessitavam de uma pátria. Desde que, no ano 70 da era cristã, o Segundo Templo fora destruído pelos romanos e os judeus foram exilados da terra de Israel, não havia nada que os protegesse como nação, como religião muito menos como indivíduos — transformados em párias, ao longo dos séculos dependeram dos humores dos governantes e, claro, do dinheiro que conseguissem juntar.

Criado oficialmente o Estado de Israel — também por razões humanitárias —, de imediato 800 mil judeus que viviam nos países árabes foram expulsos de suas propriedades, sem direito a nenhum tipo de indenização. O novo Estado nascia tendo de abrigar milhares de refugiados — tais fatos nunca são lembrados, mesmo porque Israel nunca fez alarde do que considerava seu dever. ​

Mas como questões humanitárias são mesmo bizantinas quando se trata de judeus, um dia depois da declaração de independência, no dia 15 de maio de 1948, o exército formado por Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque atacou Israel, com a intenção de varrê-lo do mapa — milhares de árabes foram instruídos a abandonar suas casas, para as quais voltariam depois que o país dos judeus fosse jogado ao mar. Israel derrotou os árabes e anexou territórios inimigos. Perder uma guerra tem seu preço, ainda mais uma guerra feita contra refugiados e sobreviventes de um morticínio.

​Isso relembrado, espero, embora seja tolo, que todos aqueles que se apiedam das vítimas dos palestinos pelo menos se lembrem que o povo judeu também participa da mesma humanidade.”

 

(*) Cíntia Moscovich nasceu em 15/3/1958 em Porto Alegre (RS). É escritora, jornalista e mestre em Teoria Literária, tendo exercido atividades de professora, tradutora, consultora literária, revisora e assessora de imprensa.
Já recebeu vários prêmios literários, destacando-se o 1º  lugar no Concurso de Contos Guimarães Rosa do Departamento de Línguas Ibéricas da Radio France Internationale, onde concorreu com mais de mil e cem escritores de língua portuguesa.
É autora de “O reino das cebolas”, co-edição da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Editora Mercado Aberto, indicado ao Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Um dos contos dessa coletânea foi traduzido para o inglês e faz parte de uma antologia que reúne escritores judeus de língua portuguesa.
Em 1998, pela L&PM Editores lançou a novela “Duas iguais – Manual de amores e equívocos assemelhados”, que recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura, na modalidade de Narrativa Longa, em 1999, e que acaba de ser reeditado pela Record.
Em outubro de 2000, também pela L&PM Editores, lançou o livro de contos “Anotações durante o incêndio, que tem apresentação de Moacyr Scliar e reúne onze textos de temáticas diversas, com destaque ao judaísmo e à condição feminina, merecendo outra vez o Prêmio Açorianos de Literatura. A mesma obra recebeu nova edição pela Editora Record, em novembro de 2006. 

Em 2004, publicou a coletânea de contos “Arquitetura do arco-íris”, também pela Record, livro que lhe valeu o terceiro lugar em contos no prêmio Jabuti, além da indicação para o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira e para a primeira edição do Prêmio Bravo! Prime de Cultura.
Em novembro de 2006, lançou o romance “Por que sou gorda, mamãe?”, também pela editora Record.
Em dezembro de 2007, lançou seu sexto livro individual, o romance infanto-juvenil “Mais ou menos normal”, que fez parte da série Cidades visíveis, da Publifolha, e que ganhará nova edição em 2014.

Ex-diretora do Instituto Estadual do Livro, órgão da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, a autora trabalhou como editora de livros do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, além de colaborar para jornais e revistas de todo o país. Em outubro de 2006, participou da Copa da Cultura, na Embaixada Brasileira em Berlim.
Em novembro de 2007, representou o Brasil na Bienal do Livro de Santiago do Chile.
Em 2008, foi uma das convidadas à Flip, Festa Literária Internacional de Paraty.
Em 2009, passou a integrar a antologia Os melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi para a editora Objetiva.
Em 2011, integrou a delegação brasileira no Projeto Rumos, do Itaú Cultural, em Santiago de Compostela, na Espanha.
Em 2012, foi convidada da Feira Intrernacional do Livro em Guadalajara. Em 2013, participou da delegação brasileira na Feira de Frankfurt.
Em 2013, ganhou o primeiro lugar no Prêmio Literário Portugal Telecom, na categoria contos/crônica, com o livro “Essa coisa brilhante que é a chuva”.
Também em 2013, pela mesma obra, foi a vencedora do Prêmo Clarice Lispector, concedido pela Fundação Bilbioteca Nacional.
Em Lisboa, 2014, participou do Festival do Desassossego, realizado anualmente pela Casa Fernando Pessoa, no mês de junho.

Em 7 de junho de 2014, participou em Viena de debate na Kunsthalle Karlsplatz, com a austríaca Julya Rabinowich, dentro da programação do Festival Nosso Jogo, organizado pelo Instituto Latinoamericano para a Áustria
No ano de 2015, representou o Brasil no Salão do Livro e da Imprensa em Genebra.
Em 2016, esteve no SESC-Flip em Paraty.
Nesse mesmo ano, foi eleita patrona da 62a. Feira do Livro de Porto Alegre.

Em 2017, esteve em Paris, na Sorbonne, falando sobre literatura brasileira.

 

 

 

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