Brizola e o Conselho ao Jaime Lerner

Durante alguns anos fui filiado ao PDT, quando o partido era liderado pelo Brizola.

Independente de qualquer outra consideração, admirava a forma obstinada como ele e o Darcy Ribeiro defendiam a criação da escola pública de qualidade em tempo integral.

Meus encontros com ele não eram frequentes, porque minha funções na Prefeitura e no Governo do Estado não permitiam que acompanhasse o Jaime Lerner em todas as viagens. Assim mesmo tive oportunidade de estar com o “velho” algumas vezes e ouvir “causos” contados por ele ou transmitidos por pessoas que os assistiram.

Lembro que foi dele que ouvi pela primeira vez a expressão “hacer malasangre”, que deve ter incorporado durante o exílio no Uruguai, mas uma das melhores histórias foi a que resultou no conselho que deu ao “Jeime”, como pronunciava o nome dele:
“Jamais perder a paciência e discutir com bêbado em comício.”

E explicou porque:
– certa ocasião estava discursando numa pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, e cada vez que fazia uma declaração mais enfática, um cidadão nitidamente alcoolizado gritava:
– “É isso aí, Brizola!”
– “Muito bem, Brizola!”
– “Falou a verdade, Brizola.”

As manifestações do “correligionário” foram ficando mais frequentes e veementes, a ponto de deixar Brizola irritado e os demais correligionários aborrecidos.

Experiente e dono de uma oratória fantástica, entendeu que devia alterar um pouco o rumo do discurso, de forma a “enquadrar o pinguço”, e para isso foi por uma linha de mostrar os malefícios do álcool:
“É nossa obrigação educar as crianças e fortalecer os vínculos entre pais e filhos, alertando-os quanto aos riscos da embriaguez! O álcool é responsável pela dissolução da família, a célula-mater da sociedade,  gerando o abandono dos filhos, o desemprego e a miséria…”

O cidadão, que até então não economizava gritos de incentivo, acusou o golpe e mandou:
– “Agora tu te cagaste, Brizola!”

 

3 thoughts on “Brizola e o Conselho ao Jaime Lerner

  • Hélio Azevedo de Castro

    E, o Engenheiro não era mole, não. Quando lhe puxaram o tapete do PTB, não se intimidou e criou o PDT, que ficou maior e mais forte do que sua antiga sigla. Pessoalmente não gostava dele, mas admirava sua inteligência.

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  • Pingback: E Por Falar Em Campanha... O Apuro Com o Bêbado | E tudo acabou em Sfiha

  • Sara Schaia Schulman

    Gerson Guelmann, muito bons, interessantes e ainda atuais os teus posts e teus comentários. Por favor, continue e, principalmente agora, em que os “fake news” abundam e as manifestações no “face” revelam postulantes absolutamente exibicionistas – diga-se de interesses próprios – para aparecer na mídia, seja de que forma for, só para aparecer, para se exibir, para se valorizar, não mais…

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