A data comemorativa oficial foi ontem, mas como as Mães precisam ser valorizadas e homenageadas todos os dias, guardei para a coluna de hoje uma crônica de saudade de alguém que perdeu a mãe e soube traduzir em palavras esse sentimento tão doído.
Esse testemunho serve para mim, que perdi a minha aos 17, ela com 40 incompletos, e certamente serve também para todos os que já sofreram a mesma dor e ontem reservaram um pouco de tempo para reverenciar quem lhe deu a vida.
A autora chama-se Ivonete Rosa e o texto foi publicado originalmente no Blog Portal Resiliência:
Despedir-se da mãe é sepultar um pouco da gente
Perder um amor dessa magnitude nos torna desprotegidos e assustados. Sabe, carinho de mãe é sempre aveludado, por mais ásperas que sejam as suas mãos. O cheiro dela é sempre gostoso, mesmo que ela não use perfume…é cheiro de amor.
As despedidas, no geral, nos maltratam. E o que dizer sobre se despedir da mãe? Para mim, esse tema é tão desolador, que, ao me imaginar escrevendo sobre ele, as lágrimas brotaram imediatamente.
E olha que eu e minha mãe nos despedimos no natal de 2010. Um dia desses eu me dei conta de que há quase oito anos eu não pronuncio a palavra “mãe” referindo-me à minha, sabe?
Eu sinto tanta falta disso. Frases simples como “bênção, mãe” ou “mãe, a senhora viu fulano”? Então, isso não faz mais parte da minha vida.
Tanta coisa para ser dita a ela e tanta coisa que eu gostaria de ouvir dela. Bem, saio de mim e vou para o geral. Quando perdemos a nossa mãe, tanta coisa se agiganta dentro de nós. Fica um grito preso na garganta e uma louca vontade de voltar no tempo.
O arrependimento também vira uma visita constante e incômoda. Arrependemo-nos por não ter tido mais paciência em determinados momentos, puxa vida, não custava nada! Nós nos arrependemos de não ter demorado mais dentro do abraço dela, a cada vez que isso acontecia. E por que não dissemos com mais frequência e ênfase que ela estava linda dentro daquele vestido florido e acinturadinho?
Por que deixamos passar tantas oportunidades de acariciar aquele rostinho tão sofrido? Por que nunca dissemos que, apesar das marcas do tempo, ela era muito linda? Por que omitimos dela que tínhamos muito orgulho da guerreira que ela foi? Tantos “porquês”, tantos “e se”…tantos “ah, se eu tivesse”.
E assim vamos levando a vida sem o amor que era uma amostra do amor de Deus. E nos damos conta de que, aqui na terra, nenhum amor se assemelha ao dela.
Uma mãe não ama o filho porque ele é bom, bonito ou inteligente. Ela o ama porque, ao dar à luz ou ao adotá-lo esse amor lhe foi apresentado e pronto.
Não importa a idade que tenhamos ou o quão bem-sucedido sejamos, quando nossa mãe vai embora, nos sentimos sem direção e com medo. Talvez medo de não conseguirmos caminhar sem aquele amor que era uma certeza para nós. Afinal, a certeza de sermos amados, ainda que por uma única pessoa, nos empodera e nos imuniza das mazelas desse mundo.
Perder um amor dessa magnitude nos torna desprotegidos e assustados. Sabe, carinho de mãe é sempre aveludado, por mais ásperas que sejam as suas mãos. O cheiro dela é sempre gostoso, mesmo que ela não use perfume…é cheiro de amor.
Sempre que viajo de avião, por entre as nuvens, eu fantasio que estou bem perto dos meus pais. Eu os imagino sentados num banquinho olhando para o horizonte e esperando por mim, em frente a uma casinha bem simples. Na cena, todos os cachorros e gatos que tivemos um dia estão presentes. Tem também um bule de café e biscoitos de polvilho. Eu chego e nos abraçamos por muito tempo.
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