A Escolha de Salomão

Pelo lado paterno, minha avó Sofia tinha 5 irmãos. Os nomes “aportuguesadoseram Clara e Mira, das mulheres, e Isaac, David e Salomão, dos homens.

Na saída da Rússia minha avó, a tia Clara e o tio Isaac vieram para o Brasil. Mira, David e Salomão foram para os EUA.

Nunca pensei que como no Partido Alto” do Chico Buarque, “D-us achou muito engraçado me botar cabreiro e me fez nascer brasileiro”, mas costumo brincar dizendo que não fiquei com a “turma de lá” porque o sistema de cotas me prejudicou.

Gracejos a parte, a separação de famílias judias na saída da Europa ocorria com frequência, mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, como aconteceu com meus avós, que chegaram em Curitiba em 1913.

Conheci meus tios-avós americanos, que vinham para cá com certa frequência. Tenho boas histórias deles a contar, e a primeira foi protagonizada pelo Salomão. Separado e sem filhos, era tido na família como um “bon-vivant”, pouco afeito ao trabalho e apreciador de destilados em geral.

Numa das visitas ele veio de navio e trouxe um carro, provavelmente encomendado por alguém da família. Isso era bastante comum na época, já que não havia fabricação de automóveis no Brasil. O que vale aqui é o meio de transporte, como veremos adiante.

Ficou em Curitiba algum tempo e quando chegou a época de ir embora, disse para minha avó que pretendia voltar também de navio. A irmã, sabendo que o pedido escondia a vontade de passar um bom período em libações al mare”, negou o pedido e disse que só pagaria a passagem de avião.

Não havia aí nenhum objetivo de economia; era o cuidado com a saúde do irmão e a preocupação com o excesso de bebida.

Aqui faço uma digressão para falar um pouco do outro Salomão da família: meu avô. Como disse, ele chegou no Brasil em 1913.

Com o passar do tempo tornou-se um industrial de sucesso e grande empregador, chegando a ter 450 Colaboradores na fábrica de móveis no Portão. Inteligente e trabalhador, em menos de três décadas construiu patrimônio e reputação sólidos tanto entre os patrícios judeus como na sociedade em geral.

Ao ver que a negativa da irmã fazia o sonho de “viajar água acima ir água abaixo”, o Salomão americano mirou no Salomão brasileiro e espertamente saiu-se com esta:
– “Pois então vou tocar bumbo no Exército da Salvação e vou dizer que meu cunhado Salomão Guelmann não quer pagar minha passagem para casa.”

Foi de navio.

6 thoughts on “A Escolha de Salomão

  • PEDRO AUGUSTO SCHWAB

    Gosto de sua colocações e das piadas.
    Abraço

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  • Marcos

    Ótima recordar é viver

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  • Elza Jacob Bretas

    Parabéns! Sucesso

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  • lea okseanberg

    ótima

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  • MIRIAM BRUNA SZTULMAN

    Uma obra prima o texto escrito! parabéns!!!!

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  • Sara Grupenmacher1

    Essa NOSSA FAMÍLIA ERA MUITO LEGAL.

    VIVA!!!! TEMOS BOAS LEMBRANÇAS. 5

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