Luis Fernando Veríssimo, Premiado Pelos Judeus, Agora Pisou na Bola

Há exatos 7 anos, no dia 9 de novembro de 2011, o escritor Luis Fernando Veríssimo recebeu da Sociedade Brasileira de Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém o Prêmio Scopus 2011.

Na ocasião a entidade informou que o prêmio foi concedido em razão “da inestimável contribuição dada por Luis Fernando Veríssimo à literatura brasileira e pelo apreço que sua família tem pelo Estado de Israel”.

O Prêmio Scopus é conferido a uma pessoa ou associação que se destacaram em suas respectivas áreas e cujos esforços humanitários e excelente compromisso contribuiu para a melhoria da Universidade Hebraica, o Estado de Israel, o povo judeu e a Humanidade.

O escritor gaúcho esteve em Israel em 2007 e recebeu, em nome do pai, o também escritor Érico Verissimo (1905-1975), uma homenagem do governo israelense pela obra “Israel em Abril”, publicada em 1969.   

Pois então: Luis Fernando Veríssimo, que já foi credor da admiração da comunidade judaica brasileira, publicou recentemente em sua coluna no jornal O Estado de São Paulo uma crônica sugerindo que adversários políticos do presidente recém eleito tenham uma estrela vermelhada costurada na roupa.

Veríssimo não se referiu ao degradante episódio da história em que os nazistas usaram a estrela amarela para identificar os judeus alemães, e nem seria preciso, já que fez questão de argumentar que “deu certo em outros países”.

Vários judeus brasileiros manifestaram-se sobre o vexaminoso artigo, e me agradou particularmente o que disse Sheila Leirner, jornalista que estudou cinema, sociologia da arte e urbanismo na França, onde reside, e que desde 1975 é crítica de arte no mesmo O Estado de São Paulo.

Ela publicou, lá mesmo, no último dia 4, uma resposta magnífica ao desastrado Luis Fernando Veríssimo:

 

Um colunista que precisa pedir desculpas. E já!

Sheila Leirner
04 Novembro 2018 | 09h48

Duvido que a coluna de Luis Fernando Verissimo, do dia 1, publicada igualmente em papel, esteja em acordo com este órgão de imprensa exemplar que conheço desde criança, e onde comecei a escrever há 43 anos, quando o diretor de redação era Fernando Pedreira. Não acredito que expresse, nem de longe, a opinião de um jornal que, sob a direção de Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita (JT), passou pelas piores fases da ditadura, sempre defendendo com objetividade a justiça e os direitos do homem, abominando preconceitos e parti pris ideológicos.

A coluna em questão deste escrevinhador de 82 anos, é ultrajante. Liberdade de expressão não é isso. Luis Fernando Verissimo certamente não é nenhum Flaubert, mas segundo a Wikipédia é também humorista, cartunista, tradutor, roteirista de televisão e autor de teatro, já foi publicitário, revisor de jornal e toca saxofone. Ainda segundo a mesma fonte “ele tem mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos, e é filho de…”  Está explicado. Ninguém é “filho de”, impunemente.  Tem que se esforçar muito!

Mas a coluna dele é ultrajante em vários aspectos. Em primeiro lugar desrespeita a escolha da maioria, julgando-a sob ideias preconcebidas que só podem ser provadas com pesquisa, estatísticas e estudo. Verissimo “afirma” em vez de “apresentar como hipótese” que “o ódio ao PT foi maior que o amor pela democracia”. Não é uma certeza. Aqui, tanto “ódio”, quanto “amor” e “democracia” podem ser questionados em todos os níveis, inclusive na sua convicção de que o governo petista preservaria a democracia e o governo bolsonarista, não.  Também não é uma certeza. E a desonestidade intelectual já se inicia desta maneira.
Mas o que o colunista condena principalmente é a “omissão”. Acusa a preterição (legítima, diga-se de passagem) dos políticos e o verdadeiro (e também legítimo) “protesto” (votos em branco, nulos e abstenção) de  42,1 milhões de pessoas no Brasil e 60% de votantes no Exterior. Pessoas para quem nenhum dos candidatos as representava. É muita gente só “para cuidar de suas hortas”, não é mesmo?

“Antissemitismo às avessas„

E, por fim, dá a sua contribuição que, evidentemente, cai como uma luva confortando uma espécie de antissemitismo às avessas, e transforma os petistas em “perseguidos”: “como será difícil distinguir um marginal vermelho de um cidadão normal, agora que até a direita usa barba, sugiro que se costure uma estrela vermelha na roupa dos marginais, para identificá-los”, escreve. E o colunista termina a ironia, afirmando  que “deu certo em outros países”. Só esqueceu de acrescentar “em outra época”.

É verdade que deu certo. A estrela infamante costurada na roupa – dispositivo obrigatório de identificação e discriminação imposto pela Alemanha nazista aos judeus residentes nas zonas conquistadas, durante a Segunda Guerra mundial – indicava as vítimas aos algozes. Só que aquelas vítimas constituíam um povo e uma civilização e não um partido político corrupto, em extinção. A estrela amarela não foi cosida como a imaginária “estrela vermelha” de Luis Fernando Verissimo na “roupa dos marginais, para identificá-los”. Os judeus, ao contrário de certos membros do PT, nunca foram “marginais” como ele diz, a partir do que gritou Jair Bolsonaro em seu horrível discurso. Além de que foram “cidadãos normais”, não precisavam “ser distinguidos” como sugere o colunista.

Até a próxima, que agora é hoje e estamos aguardando as desculpas deste esforçado colunista “filho de..”! Sei que é difícil, mas ao ler esta frase final, por favor, não confunda com “filho da …”

 

Se quiser ler o artigo original, clique aqui.

3 thoughts on “Luis Fernando Veríssimo, Premiado Pelos Judeus, Agora Pisou na Bola

  • Celso zem

    Ixxiii, que comparação mais infeliz….

    Responder
  • Carlos Ernani Brickmann

    Gerson, o LFV mereceu nossas homenagens. É um excelente escritor, humorista, bom saxofonista, inteligência brilhante (foi um dos idealizadores da Muda Brasil Tancredo Jazz Band), e, com seu pai, Érico Veríssimo, nunca aderiu ao antissemitismo. O problema não é que ele seja petista: é que adotou o petismo como religião. Como humorista, deixou de ser engraçado – não existe humor a favor. A Muda Brasil Tancredo Jazz Band, que era divertidíssima, estiolou-se. Ele deve manter todas as suas qualidades, porque lhe são inerentes, mas as sufoca sempre que tem de dizer que tudo que se condena no PT ou não existe ou é uma distorção que transforma virtudes em vícios. Érico era um literato mais profundo; LFV era leve, agradável – foi pena vê-lo transformar-se num apparatchik. Sugiro que não o incomodemos: não é possível mudar sua opinião, como não é possível obrigar um ortodoxo de qualquer religião a desistir de qualquer de seus dogmas. E, pelos velhos tempos, continuemos a cultivar o filho de Érico Veríssimo que nos velhos tempos era um dos príncipes de nossa cultura. Abração, ingale. Há ocasiões em que é melhor, como os Beatles, let it be. Eu deixo estar. Continuo fã de Veríssimo, de Chico, sabendo que há um muro que nos separa nas áreas em que a ideologia os dominou.

    Responder
  • Carlos Schlesinger

    A reação de alguns setores foi exagerada, não obstante seu brilhante texto. O wue irritou as pessoas foi a crítica, adequada em minha opinião, ao desenfreado macarthismo que assolou o país. Usando a comparação com a estela amarela, seguiu-se este desrespeito à figura de Luiz Fernando Veríssimo, respeitabilíssimo intelectual.

    Responder

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *