Desde que iniciei meu blog, no final de 2016, costumo garimpar material nas fontes disponíveis na internet. Essa prática me levou a aprimorar o cruzamento de informações — não apenas para conferir a veracidade delas, mas também para me aprofundar nos temas que abordo.
Sou remanescente de uma geração que pesquisava nas enciclopédias Barsa, Caldas-Aulete, Britannica, Mirador… até que o Google se tornou meu aliado. E agora, com o compromisso de publicar três colunas semanais no HojePR, encontrei na chamada “I.A.” uma superenciclopédia à altura — fascinante e surpreendentemente precisa.
Foi em uma dessas buscas que anos atrás me deparei com a história de Dom Bernardo Bonowitz, um monge trapista norte-americano, nascido em 1949 em Nova York, primogênito de uma família judia de origem bielo-russa e polonesa que imigrou para o Brasil e se estabeleceu no Paraná. E nos idos de 2017 escrevi sobre ele, destacando o fato de um judeu convertido ter assumido cargo de destaque na estrutura da igreja católica.
Ainda adolescente, ele manifestou o desejo de converter-se ao catolicismo. Em 1968, aos 19 anos, foi batizado, já como estudante de Línguas Clássicas na Universidade Columbia. Iniciou sua vida religiosa com os Jesuítas em 1973, e aos 33 anos ingressou no Mosteiro Trapista de Spencer, em Massachusetts.
Chegou no Brasil em 1996, com 47 anos, como prior eleito da comunidade de Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente — a apenas 100 quilômetros de Curitiba. Quando o local foi elevado a Abadia, em 2008, Dom Bernardo tornou-se o primeiro Abade do Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo — o único da ordem, masculino, em todo o Brasil.
Lembrando da minha postagem, voltei a pesquisar sobre Dom Bernardo e tomei conhecimento do seu falecimento em 19/01/2025. Ele conduziu a comunidade por muitos anos com sabedoria e serenidade, até que, já com a saúde debilitada e após mais de duas décadas no Brasil, retornou aos Estados Unidos para tratamento de uma doença degenerativa que o fez abandonar o cargo e a vida monástica. Sua partida, agora, não foi exatamente uma surpresa para os que o acompanhavam, mas ainda assim comove — pelo homem que foi, pela história que construiu e pelo silêncio que deixa.
Ganhou destaque na imprensa — inclusive com uma entrevista ao Programa do Jô — não apenas por sua posição na hierarquia trapista, mas também por sua origem incomum: um monge que havia sido criado no seio do Judaísmo. Na entrevista, Dom Bernardo comentou que os trapistas rezam oito vezes por dia. Falam apenas o necessário durante o trabalho, comunicando-se por sinais, e vivem sob regras rigorosas: podem visitar a família apenas a cada cinco anos e recebê-la por cinco dias a cada dois.
A escolha de fé de Dom Bernardo foi pessoal — como toda fé deve ser. Assim como acolhemos cristãos sinceros que se convertem ao Judaísmo, devemos saber respeitar — sem reservas — aqueles que, em busca de sentido e transcendência, trilham o caminho inverso.
Fé não se impõe nem se explica. Fé é silêncio, é busca, é entrega. Dom Bernardo parece ter encontrado aquilo que procurava. E por isso merece não a crítica, mas a reverência.
Para assistir a entrevista de D. Bernardo ao Jô Soares, clique aqui.
Dom Bernardo Bonowitz
Foto Abadia Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo
2 thoughts on “Morreu o Monge Que Era Judeu”
Os Trapistas são fantásticos e muito amigos.
Os conheço desde que era um priorado ,depois elevado a Abadia.