O Cemitério Israelita e Meu Avô

Como faço todos os anos desde a morte de meus pais e irmãs, ontem fui ao Cemitério Israelita da Água Verde, para visitar seus túmulos.

Desde o trágico acidente em 1965 jamais deixei de ir lá no dia 7/2, a não ser nos anos em que data caiu em um sábado, quando os cemitérios israelitas estão fechados. Quando isso ocorreu, fui no dia seguinte.

Cada um tem seu modo de pensar e agir com relação a cemitérios. Há os que não gostem de fazer visitas, e isso deve ser respeitado. Eu vejo no ritual uma forma de lembrar dos meus entes queridos e esses momentos de introspecção me trazem paz.

A visita de ontem me fez lembrar das circunstâncias que possibilitaram a criação do 1° Cemitério israelita de Curitiba, o que foi viabilizado por meu avô Salomão Guelmann.

O vovô, homem simples e iletrado mas dotado de uma inteligência fenomenal, era extremamente determinado, e essas qualidades fizeram com que se destacasse como industrial e também como grande ativista dentro da comunidade judaica.

Nessa condição em 1925 ele procurou o Bispo Diocesano Dom João Francisco Braga, ao qual pediu que intervisse junto ao Prefeito João Moreira Garcez para que fosse permitido que os judeus tivessem seu próprio cemitério.

O vovô argumentou que por ocasião dos enterros e visitas ao Cemitério Municipal havia uma situação de constrangimento, uma vez que os cristãos descobriam a cabeça e ao avistar os homens judeus cobertos, ficavam chocados.

O Bispo sensibilizou-se com o que ouviu e logo após enviou ao meu avô a carta manuscrita que dizia o seguinte:

“Ao Sr. Guelmann,

tem a satisfação de informar que, preparando o caminho, fallou ao Exmo. Sr. Prefeito em quem encontrou muito bôas disposições, não excluída a de poder, em qualquer momento, ser procurado pelo digno interessado a quem está se dirigindo o

Bispo Diocesano

19.XII.1925″

O original ficou guardado com meu saudoso tio e tutor Manoel Scliar z”l, e após seu falecimento a família decidiu entregá-lo à Chevra Kadisha, a entidade que administra o Cemitério.

Mais tarde encontramos também o documento do registro da compra do terreno na Prefeitura Municipal de Curitiba, em 1926. 

A partir daí as pessoas da comunidade judaica passaram a ser sepultadas no local e algumas tiveram seus restos trasladados do Cemitério Municipal, como foi o caso de nossa tia Rosa, falecida muito pequena. 

Como é possível ver, meu avô era realmente um homem sábio, e os registros aí estão para que a história não se perca.

 

 

 

 

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