O Jaime Lerner e o Soldado na Porta

Observação: este artigo foi escrito originalmente em 11/3/2021, antes do falecimento do Jaime Lerner. Fiz algumas alterações no texto e estou republicando-o.

Se você digitar “JAIME LERNER” na caixa de pesquisa aqui no lado direito do Blog, encontrará muitas publicações sobre ele.

Agora, ainda muito impactado por seu desaparecimento, me ocorreu de relatar mais uma das minhas histórias com ele. 

Já contei que ao contrário de outros Assessores, tanto na Prefeitura como no Governo do Paraná minhas viagens com ele eram raras, já que a função de Chefe de Gabinete não permitia que me ausentasse, a não ser nos finais de semana ou em ocasiões muito especiais. 

Em 1995, logo após a posse no 1º mandato, foi marcada uma viagem para Maringá. Como seria o primeiro compromisso desse tipo, fui junto.

Foi uma viagem rápida e ficamos apenas um dia na cidade, mas o que aconteceu nessa primeira noite fora de Curitiba serve para mostrar quem era o ser humano Jaime Lerner.

Cumprida a agenda do dia, fomos para o hotel, onde toda a equipe foi alojada em apartamentos próximos, sendo o meu defronte ao do Jaime.

Eu subi um pouco antes e outros companheiros ficaram conversando com o Jaime no bar. Mal eu tinha deitado, ouvi baterem na minha porta.

Era S. Excia., querendo saber quem era o homem na frente do seu apartamento.

Expliquei que muito embora estivesse à paisana, era um soldado da Casa Militar, designado para fazer a segurança do Governador, de acordo com o regulamento.

A resposta (ordem) dele:
“Você está louco? Prá que isso? De jeito nenhum! Como é que eu vou conseguir dormir sabendo que tem uma pessoa acordada por minha causa?”

Não adiantou explicar que essa era a função dele e que os PMs designados para a Casa Militar recebiam um soldo a mais e gostavam de trabalhar lá. Também disse ao Jaime que certamente o Soldado havia se preparado para a tarefa e iria descansar tão logo nós saíssemos do hotel. 

Não sei como o Chefe da Casa Militar, o Coronel Vieira, agiu nas viagens a partir daí. É possível que para se preservar e garantir a segurança ele tenha conseguido deixar os soldados fora das vistas do Governador.

Mas na porta do apartamento, nunca mais.


Foto:  Ibon San Martin – FreeImages

 

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