Meus amigos, especialmente do WhatsApp, sabem que tenho o hábito de alertá-los sobre plágios, boatos e aquela profusão de textos, links, fotos e vídeos (muitas vezes editados), imagens, “memes” e tudo o que se enquadra na classificação das fake news. Ironizo dizendo que elas causarão a 3ª Guerra Mundial; sou realmente “chato” e cobro dos que insistem em reencaminhar absolutamente tudo o que recebem. Muitos me consultam antes de compartilhar e sabem que tenho enorme prazer em ajudar.
A preocupação começou depois que comecei a publicar o Blog e aumentou após assumir uma coluna no portal HojePR. Desde então pesquiso com maior cuidado para descobrir quem são os verdadeiros autores dos textos e somente quando esgoto todos os recursos é que publico o que recebi, sempre com a devida ressalva.
Um desses casos é o relacionado ao soneto de Camões “Amor é fogo que arde sem se ver“, cujo texto original é este:
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer…”.
Na época do e-mail circulou um texto muito bem-humorado atribuído “à uma vestibulanda de 16 anos da Bahia” no qual ela dizia ao “Bardo Português” o que ele deveria fazer diante daquele amor desmedido:
“Ah! Camões, se vivesses hoje em dia,
Tomavas uns antipiréticos,
Uns quantos analgésicos e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
Consultavas a Internet
E descobririas que essas dores que sentias,
Esses calores que te abrasavam,
Essas mudanças de humor repentinas,
Esses desatinos sem nexo, não eram feridas de amor,
Mas somente falta de sexo!”
A história terminava dizendo que a moça teria conseguido nota 10 ao interpretar essa primeira estrofe na prova de português.
Agora a mesma “receita médica” chega por WhatsApp, Facebook, Telegram, etc, e fui atrás da origem. Pelo que vi, já em 2006 um Blog dos Açores dizia que a história era atribuída a uma aluna do ensino médio de Portugal e também questionava a informação. De toda forma a história é boa e seja lá quem a tenha escrito, temos que reconhecer que o texto é ótimo.
Na pesquisa me deparei com o que seria a tréplica, dessa vez com autoria plenamente comprovada:
” Ah, vestibulanda, minha querida
Precisas disso tudo pra passar
De remédios às pencas pra estudar
E teres algum sucesso na vida.
Fica bem firme em teu computador
Observa teu mundo pela Internet
Mas sobre o amor? Sério? Tu não te metes
Eu te peço, mas é em teu favor.
Porque em teu texto a métrica é sem nexo,
Essas tuas rimas são um horror.
E pela idade que tens, meu amor,
Não entendes de nada, nem de sexo.”
(Camões, via Roderic Szasz)
O autor, Roderic Szasz, é dono de um Blog que vale a pena ser acessado e cujo link está abaixo:
https://rodericszasz.com.br/sobre-mim/
One thought on “O Velho Camões, as Redes Sociais e a Receita Médica”
Essa história apareceu com Açores, com Algarve, mas isso foi depois de muito ter circulado por aqui como sendo da Bahia, de Pernambuco, da USP, e a idade da vestibulanda variando. Eu acho…. que me lembro de ter lido no século passado na revista O Cruzeiro. Assinado por algum dos colunistas. Acho….