Caso você ainda não tenha percebido, aviso: já começaram os primeiros confrontos entre os candidatos a prefeito. Estou me referindo à temporada de debates eleitorais, que no Brasil ocorre a cada dois anos, alternando-se entre prefeitos e vereadores, como programado para este ano, e governadores, deputados estaduais e federais, senadores (1/3 ou 2/3, alternadamente a cada 4 anos) e presidente.
Seja para que cargo executivo for, tais confrontos costumam proporcionar divertimento para alguns e suores frios para outros, reações que dependerão de a pessoa estar na condição de espectador em casa ou de debatedor no estúdio da TV. O riso é proporcionado pelos candidatos sem maior preparo, os franco-atiradores que disputam por razões nem sempre muito claras ou éticas; já as reações físicas acometem os confrontados pelos adversários sobre declarações e fatos desabonadores.
Os debates desempenham um papel fundamental durante o período eleitoral no Brasil, assim como em outras democracias, e são importantes para o esclarecimento de propostas e a comparação de ideias. Claro que a avaliação dos candidatos pelos eleitores vai se firmar no decorrer da campanha pela observação dos programas eleitorais, comícios, etc., mas a participação nos debates pode ajudar na escolha, especialmente naqueles realizados mais perto da eleição.
Semana passada foi realizado o 1º debate dos candidatos a prefeito de Curitiba e isso me fez lembrar de quando estávamos preparando o Jaime Lerner para o confronto inicial da campanha a governador, em 1994.
O Jaime já havia participado de muitos debates em campanhas anteriores, e mesmo sendo a 1a campanha estadual como cabeça de chapa (havia sido candidato a vice-governador em 1986), o preparo dele era excelente. O plano de governo era sólido, fundamentado nas ideias dele mesmo e de uma equipe de altíssimo nível, e assim todos nós estávamos confiantes.
O comitê foi montado onde havia funcionado o antigo Curtume Curitiba na rua Itupava, e o Wianey Pinheiro, marqueteiro da campanha, juntou um grupo de assessores mais próximos do Jaime para ‘compor a banca de exame’, simulando perguntas que eventualmente seriam feitas pelos adversários.
Imaginando que a questão da dualidade ‘capital X interior’ poderia aparecer, na minha vez de perguntar “fui com tudo” para cima do candidato:
– “Jaime Lerner, é verdade que você prefere comer um croissant em Paris do que um banquete no interior do Paraná?”
Na realidade eu mencionei uma cidade pequena do interior, e ainda lembro qual foi, mas a essa altura da vida não quero arrumar confusão com os cidadãos do município.
O Jaime disse que queria ser eleito para governar o estado como um todo, sem diferenciar os grandes centros urbanos das pequenas cidades, e que o desafio seria o de identificar a vocação de cada região e promover o desenvolvimento de cada município, etc. Mas o que ficou na minha memória, mesmo, foi a queixa quando a simulação acabou:
– “P**, você tinha que me bater daquele jeito?”