Todos sabem que o humor é um grande aliado da vida, mas há ocasiões em que ele se recolhe, respeitosamente, diante da memória.
Hoje, 7 de fevereiro, peço desculpas aos meus queridos leitores: não consigo publicar humor.
Nesse dia, há exatamente 60 anos, em um domingo de 1965, perdi meus pais e minhas duas irmãs menores em um trágico acidente de automóvel. Nossa família, que era de sete, passou a ser de três.
Meu pai, Isaac, e minha mãe, Selda, fariam aniversário naquele mesmo mês — ele completaria 42 anos, ela 40. Poucos meses depois, Gisele completaria 12, e Gilce, a caçula, faria 9.
Meus irmãos, Gilberto (19), Gilson (13) e eu (17), os esperávamos para o almoço, vindos de São Paulo. Eles nunca chegaram.
Sessenta anos se passaram, mas a saudade não se mede pelo tempo. A dor, aos poucos, é substituída por uma espécie de resignação silenciosa, e a vida acaba nos ensinando que a memória é um lugar sagrado, onde guardamos aqueles que amamos. Sempre me pergunto como teria sido a vida se o destino não os tivesse levado.
Hoje são 10 netos e 6 bisnetos; quantos mais haveria? Que histórias teriam sido contadas? É impossível saber. Só me resta lembrar.
E, por isso, todos os anos, desde então, copio as palavras de Fernando Pessoa, em Carta a João Gaspar Simões – 11 Dez. 1931, que expressam o que sinto no coração:
“Tenho, do passado, somente saudades de pessoas idas, a quem amei; mas não é saudade do tempo em que as amei, mas a saudade delas; queria-as vivas hoje, e com a idade que hoje tivessem, se até hoje tivessem vivido.”
Sempre digo que uma pessoa não está realmente morta enquanto for lembrada por alguém. Muitos familiares e amigos ainda os guardam na memória, e essa é a razão pela qual nunca deixo de relembrá-los.
Na próxima sexta, volto com a coluna habitual e a leveza do humor e da cultura judaica. Hoje, apenas a lembrança e o agradecimento a todos que me acompanham nessa jornada e que me permitem compartilhar minhas memórias, reflexões e, é claro, o humor.
Até lá!
Última foto da família, Dezembro/1964