Os Curitibanos têm saudade do Jaime Lerner.
A gente percebe isso nas conversas, nas mídias, em todos os lugares. O assunto é sempre o mesmo: a Curitiba de antes e depois dele. Não é exagero dizer que há uma certa nostalgia de Jaime Lerner. Claro que há uma geração inteira que não acompanhou as gestões dele e que, como ele mesmo dizia, “nasceu com a estação-tubo na frente da casa”, mas o legado está aí e a História lhe fará justiça.
Trabalhamos juntos quatorze anos: quatro na última gestão na Prefeitura, dois montando o Instituto Jaime Lerner e preparando a 1ª campanha estadual, e mais oito no Governo do Paraná. A relação de amizade já era antiga, porque além da amizade familiar, a partir de 1982 estivemos juntos em algumas campanhas eleitorais.
Para falar a verdade, o começo foi catastrófico; compartilhamos 3 derrotas. Alguém disse “já ganhei eleições e já perdi; ganhar é melhor”, e se fossemos considerar isso teríamos que desistir. Começamos perdendo em 1982 com a campanha do Saul Raiz ao Governo do Estado. Em 1985 mais uma derrota: na primeira eleição para Prefeitos das Capitais da chamada Nova República o Jaime ficou em 2º, perdendo por pouco menos de 4%. No ano seguinte veio o 3º fracasso, com o Jaime concorrendo como vice-governador em uma eleição que se prenunciava desastrosa desde o início.
Bom, cada eleição tem uma história e aí veio 1988 com o vitorioso “Coração Curitibano”, sobre o qual muito já se falou e que ainda merecerá meu relato. Vencida a “eleição dos 12 dias”, o Jaime me convidou para fazer parte da equipe. Quando perguntei se me daria alguns dias para pensar, a resposta veio “de sem-pulo”, ao estilo dele:
– “os que me pressionaram para concorrer não podem pedir tempo para aceitar”.
Saí da reunião e fui juntar os documentos para a nomeação.
Foram 4 anos gloriosos em que o Jaime consolidou ideias e planos baseados em projetos implantados nas duas gestões anteriores. Assim é natural que eu tenha muitas histórias para contar, algumas mostrando o lado espirituoso dele, conhecido pelo notável bom humor e raciocínio rápido. Raras vezes presenciei uma demonstração de mau humor ou irritação do Jaime, mesmo em situações de estresse. Isso acabava permeando e fazendo parte do comportamento de toda a equipe, que trabalhava no mesmo estilo.
O caso que conto hoje aconteceu na época da Prefeitura. Os dois Sindicatos dos Servidores decidiram fazer greve e bloquearam as entradas do prédio central, exigindo que o Prefeito recebesse a comissão formada para negociar.
O Jaime concordou com o pedido e recebeu o grupo na sala de reuniões do Gabinete, com a presença dos Secretários da Administração e Finanças. Como Chefe de Gabinete, eu estava presente.
Depois que os dirigentes dos Sindicatos subiram para a reunião, os grevistas se dividiram; um grupo saiu da entrada do prédio na Cândido de Abreu e foi para a rua Papa João XXIII na parte de trás do prédio. Ali, exatamente embaixo da janela da sala, ficaram gritando as costumeiras palavras de ordem e apitando sem parar.
Quando todos estavam sentados, o Jaime abriu a porta de ligação entre a sala dele e a de reuniões e antes mesmo de sentar, disse aos Sindicalistas:
– “Se você chega na minha casa, toca a campainha e eu atendo, você não precisa continuar com o dedo no botão. Por favor, um de vocês desça lá, diga que já estamos conversando e que podem parar a gritaria”.
Um dos presentes desceu, deu o recado e a reunião começou.