Jânio Quadros, Meu Pai e o Mergulho na Piscina

Meu pai tinha um primo em São Paulo, chamado Salomão Guelman Sobrinho (ele assinava com um “n” só). O “Sioma”, como o chamávamos, nasceu na Europa e veio para cá com apenas dois meses de idade.

Meu avô, o Salomão “original”, chegou ao Brasil em 1913 e, apenas dez anos depois, conseguiu trazer da Ucrânia natal os irmãos que lá ficaram — entre eles, meu tio-avô Valódio, pai do Sioma. Vieram também suas duas irmãs, uma das quais, Feiga, nome abrasileirado para Fanny, viria a ser a bisavó de Luciano Huck.

O Sioma morou inicialmente em Curitiba e depois mudou-se para São Paulo, onde formou-se em Medicina, tornando-se um excelente gastroenterologista. Além da clínica particular, foi chefe do serviço médico da Real Aerovias e do Banco do Brasil. Ele e o pai criaram a primeira Loja Maçônica Judaica do Brasil. Também participou do grupo que fundou o Hospital Israelita Albert Einstein e atuou no Círculo Israelita e na Hebraica, clubes tradicionais da comunidade judaica paulistana.

Foi lá que conheceu e tornou-se amigo de Jânio Quadros, com quem conviveu por toda a vida. Jânio foi vereador, deputado, prefeito e governador de São Paulo antes de chegar à Presidência da República.

O curioso é que ambos — Sioma e Jânio — não nasceram em Curitiba, mas aqui residiram, acabando por se conhecer e estreitar amizade em São Paulo. O pai de Jânio, Gabriel Nogueira de Quadros, era farmacêutico curitibano e foi tentar a sorte no Mato Grosso, onde o filho nasceu. Mais tarde, a família retornou ao Paraná, e depois Jânio mudou-se para São Paulo.

Ele chegou a ser deputado federal pelo Paraná, embora não tenha participado de nenhuma sessão do Congresso, pois viajou ao exterior e, ao retornar, dedicou-se à preparação de sua candidatura à Presidência. Também foi amigo de Ney Braga, ex-prefeito de Curitiba, ex-governador do Paraná, ex-senador e ministro, a quem conheceu no internato, aqui em Curitiba.

Certa vez, estando em São Paulo, meu pai acompanhou o Sioma numa visita ao Jânio. A conversa foi animada, e o ex-presidente lembrou histórias do tempo em que morou em Curitiba e estudou no Internato Paranaense, dos Irmãos Maristas.

Na despedida, meu pai convidou-o para passar alguns dias na fazenda que a família Guelmann tinha em Ponta Grossa, onde mais tarde coordenei um projeto de plantio de quase um milhão e seiscentas mil árvores. Sugeriu que viesse no verão, para aproveitar a piscina.

Jânio, conhecido pelas tiradas bem-humoradas — e por vezes até surpreendentes —, agradeceu e disse:
— “Minha família tem tradição nos esportes aquáticos. Um primo meu bateu o recorde mundial de mergulho.”

Meu pai ficou surpreso:
— “Verdade? Que incrível! Como foi?”

E Jânio respondeu:
— “Ele mergulhou há dez anos… e nunca mais voltou.”

Meu pai era conhecido como um grande brincalhão e gozador, famoso por surpreender amigos e familiares com “pegadinhas”. Mas é fácil imaginar a cara dele diante dessa resposta…

Jânio Quadros desembarca em Curitiba na única visita feita à cidade durante o período em que esteve na Presidência, em agosto de 1961.
No flagrante era cumprimentado pelo então Governador Ney Braga.
Foto: Gazeta do Povo

One thought on “Jânio Quadros, Meu Pai e o Mergulho na Piscina

  • Delia Guelman

    Olá, Gerson. Soube que vc escreveu sobre meu pai e vim ler. Agradeço a homenagem, mas há algumas correções. Meu pai veio para o Brasil com apenas dois meses. Ele foi amigo do Jânio por toda a vida. O Jânio foi vereador, depois deputado, prefeito e governador de SP por várias vezes, tanto q no quarto centenário da cidade, em 1954, ele era prefeito e inaugurou o parque do Ibirapuera. Eu era criança e fui com meus pais, ele e a d. Eloá. Por essa época o Jânio ondicou meu pai a deputado estadual, mas como ele era naturalizado, não pôde concorrer. Ah, ele não trabalhou na Vasp, mas na Real, chefe do serviço médico de lá e depois, do Banco do Brasil.meu pai e meu avô foram fundadores da primeira Loja Maçõnica Judaica do Brasil. Ele foi tb fundador do Einstein e da Hebraica. Antes ainda, foi presidente do Círculo Israelita de SP, único clube judaico na época. Vou tentar te mandar por aqui fotos da época. Não sei se consigo…
    De toda forma, fiquei emocionada com vc citando meu pai e o Jânio, na tua crônica. Um beijo e meu carinho

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