Júlio e Samuel, dois jovens estudantes do seminário rabínico, foram até a Alfaiataria de Marcus Pincus, também judeu e especializado em roupas para religiosos.
Os rapazes precisavam de ternos pretos, como é o costume dos judeus religiosos, e foram alertados pelos alunos mais antigos para insistir com o alfaiate para não usar tecido azul-marinho.
Disseram que o alfaiate, já idoso, de vez em quando confundia as cores e isso já tinha acontecido com alguns deles.
Tiradas as medidas, no dia marcado os dois voltaram para pegar a encomenda.
A alfaiataria era antiga, a iluminação não ajudava e os alunos, ressabiados, perguntaram para Marcus se a cor era preta, realmente.
O velho alfaiate respondeu:
– “Eu sou especialista em roupas para religiosos, faço isso desde muito antes de vocês nascerem. Uso o mesmo tecido para Rabinos, Padres e Freiras. Podem ficar tranquilos.”
Os rapazes vestiram os ternos e saíram da loja.
Na rua, com a luz do sol, acharam que a cor não era a certa e a preocupação aumentou.
Enquanto caminhavam, viram que no sentido contrário vinham duas Freiras, uma de mais idade e outra bem nova, provavelmente noviça.
Júlio disse para o amigo:
– “Com certeza elas estão indo na Alfaiataria. Como a calçada é estreita, quando estivermos perto vamos deixá-las passar, aí vou encostar meu braço na roupa da mais nova para comparar a cor e ver se o Marcus Pincus usou o tecido certo.”
As duas religiosas também viram os rapazes e a mais moça disse para a outra:
– “Olhe, Madre, são dois Padres, devem ter saído da Alfaiataria!”
A mais velha riu e respondeu:
– “Não, querida, são judeus que estão estudando para serem Rabinos. A gente conhece eles pelos chapéus, essa é a roupa que usam. Mas tem outro jeito de confirmar: quando passarem, vamos ouvir em que língua estão falando; se for latim, são Padres, e se for hebraico, são estudantes judeus.”
Em poucos segundos os quatro se cruzaram e a noviça disse para a outra Freira
– “Irmã, de uma coisa tenho certeza: eles não são Padres, e a língua que falam não é latim e nem hebraico.”
Achando esquisita a observação da moça, a religiosa mais velha perguntou:
– “Como assim?”
E a jovem respondeu:
– “Um deles falou para o outro: foda-se, Marcus Pincus.”