Corria o ano de 1973 e Michel Horowitz, um judeu norte-americano com viagem marcada para Israel, foi ao Barbeiro onde cortava o cabelo há muitos anos.
Samuel, também patrício, conhecido na comunidade pelo pessimismo e por ser crítico de tudo e de todos, logo que ouviu Michel dizer que ele e a esposa embarcariam no dia seguinte, exclamou:
– “Você só pode estar brincando… Visitar Israel nesta época do ano? O calor lá é infernal, todo mundo amontoado, se acotovelando, terrível!”
Michel, acostumado com o jeito do Barbeiro e não querendo se estressar, não discutiu e continuou falando:
– “Olha, eu não estou preocupado com isso, vamos pegar um voo da United, dizem que o serviço é muito bom”.
Foi o que bastou para Samuel interromper o que fazia e mais uma vez opinar:
– “O que, United? Os aviões são pequenos, assentos estreitos, serviço de bordo péssimo, Comissários preguiçosos, vocês vão se arrepender”.
Mais uma vez Michel quis mudar o rumo da conversa e seguiu falando dos planos:
– “Fizemos reservas no Dan Hotel, que acabou de ser reformado, estamos ansiosos para chegar lá, deve ter ficado ótimo”.
Dessa vez Samuel parou tão rapidamente o que estava fazendo que por pouco não cortou a orelha do Michel com a tesoura:
-“Dan Hotel? Todo mundo diz que os quartos estão cheios de mofo, decadente, elevadores quase caindo…”
Com o corte de cabelo estava quase terminando e já sem paciência, Michel resolveu abreviar a conversa:
– “Estamos indo em um grupo e vamos tentar conseguir um encontro com a Golda Meir (¹), imagine se conseguirmos conversar com ela!”
Se até então o Barbeiro só havia criticado detalhes da viagem, dessa vez foi mais direto:
– “Michel, pare de sonhar; você é um judeu comum, um dos milhares que chegam lá querendo falar com a Golda, imagine se ela vai perder tempo com vocês!”
Michel pagou, se despediu e como previsto, viajou.
Depois de um mês e já de volta, Michel voltou à barbearia para o corte habitual, e mal sentou na cadeira respondeu à primeira pergunta de Samuel:
– “Então, estiveram em Israel?”
– “Sim, e vou te dizer uma coisa, tudo correu maravilhosamente bem!”
Samuel, sem esconder a incredulidade, perguntou por detalhes e ouviu o relato:
– “Olha, começou quando fomos embarcar; a United descobriu que tinham vendido passagens a mais e aí nos colocaram na 1ª classe, sem cobrança extra. Você não pode imaginar, fomos tomando champanhe daqui até lá. Da comida nem sei o que falar, coisas que nunca havíamos experimentado, e as aeromoças fazendo tudo para nos agradar”.
O Barbeiro não escondia a decepção com o relato, e Michel continuou contando:
– “Parece que era nosso dia de sorte, porque no hotel aconteceu a mesma coisa. Alguém do setor de reservas se atrapalhou e acabaram nos colocando na suíte presidencial pelo mesmo preço”.
Dessa vez Samuel não conseguiu esconder a ironia na voz:
– “Ah, sei, sei… E vai me dizer que conseguiram estar com a Golda Meir, não é?”
E foi um Michel detalhista que respondeu:
– “Sim, você está absolutamente certo, estivemos com ela! Sabe, fomos com um grupo da Hadassah (²) e quando estávamos na fila da Knesset (³) minha esposa disse que havia ajudado a conseguir 60 mil dólares para um Orfanato de Tel Aviv. Um dos guias ouviu, foi até onde a Golda estava e comentou com ela. Foi emocionante, ela veio até nós, abraçou e beijou minha esposa e agradeceu às demais mulheres, foi de uma doçura que nos deixou maravilhados”.
Michel, percebendo que seu Barbeiro estava atônito, acrescentou:
– “Acredita que antes de ir embora ela ainda se aproximou de mim e disse uma coisa no meu ouvido?”
– “O que ela falou?” – Samuel quis saber.
Usufruindo do momento, Michel desferiu o golpe final:
– “Chegando bem perto ela perguntou quem fez esse péssimo corte de cabelo”.
(¹) Golda Meir foi fundadora e Primeira-ministra do Estado de Israel
(²) Hadassah é uma organização filantrópica e sionista dos Estados Unidos
(³) Knesset é o Parlamento de Israel
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2 thoughts on “Michel Horowitz, o Barbeiro e a Viagem Para Israel”
Gostei muito da piada! O barbeiro levou uma lição!