O Urbanista Amigo do Jaime Lerner e a Lombada

Em 1992, quando estava terminando o último mandato na Prefeitura, o Jaime Lerner recebeu a visita do Allan Jacobs.

O Jacobs, grande Planejador Urbano, está com quase 93 anos e atualmente é professor emérito Na Universidade da Califórnia. É o autor dos livros “The Boulevard Book”, “Great Streets”, e “Looking at Cities”.

Eles foram amigos por toda a vida e conviveram muito quando o Jaime foi Professor Visitante de Urbanismo no curso de pós-graduação da Universidade de Berkeley, Califórnia.

O Jacobs é um sujeito formidável, uma figura que cativa de pronto. Certamente um fator que contribuiu para que ele e o Jaime fossem excelentes amigos foi o bom humor de ambos. Sentar-se a mesa com os dois era um enorme prazer. 

Tive a sorte de estar com o Allan Jacobs algumas vezes aqui em Curitiba e uma em San Francisco, sempre com o Jaime. Nessa vinda em 1992 ele foi conosco a Paranaguá, para um compromisso político. Era a época das eleições municipais e o Jaime ia discursar no comício do Joaquim Vanhoni, candidato a Prefeito pelo PDT.

Conduzidos pelo Ceccon, motorista do Jaime por longos anos e que também nos deixou há pouco tempo, lá fomos nós.

O comício era à noite e saímos de Curitiba um pouco mais cedo para visitar o Dr. Vidal Vanhoni, pai do Joaquim (e do Ângelo). O Professor Vidal, como era conhecido, era um homem notável. Foi Deputado Estadual, Secretário de Educação e Professor da Universidade Federal. Uma pessoa de bem.

Após a visita fomos para o comício, na Vila Guarani. A atração da noite era a cantora Sula Miranda que, como era praxe nos “showmícios”, seria a última a entrar no palco. Antes dela teriam que falar todos os candidatos a vereadores, o Jaime Lerner e, é claro, o próprio Joaquim Vanhoni.

O “mestre de cerimônias” tentava manter o interesse do povo, que compareceu em grande número e estava ansioso para assistir a apresentação da “Rainha dos Caminhoneiros”.

O slogan do candidato era “Paranaguá Já”, que o apresentador se esgoelava gritando sempre que podia, exercitando a criatividade possível nas circunstâncias:
– “Joaquim Vanhoni é…” – “Paranaguá já!” – respondiam.
– “A Sula Miranda vai cantar para…” – “Paranaguá já” – berravam.
– “O que nós queremos?” – “Paranaguá já!” – gritava a multidão.

No fundo do palco, O Allan Jacobs parecia não acreditar no que via. Ele jamais havia participado de algo minimamente parecido com aquilo, e o Jaime e eu ríamos com o êxtase dele. Era de fato um acontecimento inusitado.

Terminados os discursos, embarcamos no carro para voltar a Curitiba.

Saindo da Vila Guarani, já no início da BR-277, pegamos um trecho com muitas lombadas. O Ceccon dirigia a uma velocidade razoável e algumas delas, mal sinalizadas, eram solenemente ignoradas.

Depois de umas 2 ou 3 batidas de cabeça no teto, o Allan tomou para si a tarefa de dar o alerta.

Assim que avistava o perigo, com seu indisfarçável sotaque norte-americano, misturava os nomes do ritmo de música da época e do “artefato urbanístico” ao qual havia sido dolorosamente apresentado minutos antes:
– “LAMBADA – DJÁ.”

 

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