O cenário é uma praça de Moscou as 3h da madrugada, em pleno inverno e sob a temperatura de 15° negativos.
A Rússia vivia o auge do período do desabastecimento de produtos básicos.
Nessa época as mulheres costumavam levar sacolas quando saiam de casa e entravam em todas as filas, mesmo sem saber o que estava sendo vendido. Podia ser beterrabas, arenques, maçãs, pão, vodka, não importava. A falta de alimentos exigia isso.
Na maior padaria moscovita, operada pelo Estado, centenas de pessoas formavam uma fila gigantesca esperando a abertura, programada para as 6h. Muitos estavam ali desde antes da meia-noite.
As 3h30, o Padeiro-Chefe, megafone na mão, dirigiu-se ao público:
– “Estamos com problemas operacionais e infelizmente não teremos pão para todos. Temos que fazer uma seleção, então os judeus que estão na fila devem ir embora”.
Após ouvir isso, algumas pessoas saíram da fila.
O tempo demorava para passar, o frio continuava inclemente, e as 4h30 o mesmo funcionário voltou:
– “Camaradas, os problemas operacionais persistem. Fizemos novos cálculos e somos obrigados a reduzir mais uma vez. Peço que fiquem na fila somente os que estão inscritos no Partido”.
Dessa vez um número maior de pessoas foi embora e a fila reduziu bastante.
Os remanescentes continuaram tremendo de frio, até que as 5h30, já perto do horário de abertura, voltou o Padeiro-Chefe:
– “Lamento informar que não conseguimos solucionar os problemas operacionais, então tenho que pedir que fiquem na fila somente os que participaram da Revolução Bolchevique de 1917”.
Diante disso a fila se esvaziou e ficou a reduzida a uma meia-dúzia de idosos, quase mortos de frio.
Dispensando o megafone, o encarregado se dirigiu ao pequeno grupo:
– “Bom, vejo que vocês são antigos e verdadeiros Camaradas, então posso contar o que está acontecendo. Vocês sabem que a padaria não tem nenhum problema operacional. O que acontece é que em nosso país nada funciona direito, a agricultura é um desastre. Sem agricultura, não há trigo, e sem trigo não há pão. É simples assim”.
Nesse momento um dos velhinhos falou:
– “Camarada Padeiro-Chefe, isso tudo nós estamos cansados de saber. O que queremos que nos explique é o porque da proteção com os judeus.”
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