Depois da quase inevitável ida ao supermercado para as últimas compras, minha mulher e eu chegamos em casa exatamente para perceber que ainda faltavam alguns itens.

Mesmo para pessoas que como eu chegam a gostar de ir ao supermercado, a perspectiva de estacionamentos lotados e caixas abarrotados é desanimadora. Mas, por imposição da urgência, lá fui.

No supermercado do bairro todos os caixas tinham filas, inclusive o preferencial, ao qual me dirigi pela prerrogativa conferida por meus 71 anos. 

Fiquei em 5º lugar na fila, atrás de uma senhora bem idosa. À frente dela estavam duas moças, na faixa de 20 ou 25 anos.

Logo chegou outro senhor, aparentando a minha idade. Ao ver a quantidade de pessoas que aguardavam, deixou as compras e foi embora.

Normalmente não reajo diante de situações assim, mas a insatisfação do homem foi a senha para que eu fechasse o ano com chave de ouro.

Apontei para a placa e chamei a atenção das jovens. Virando para trás e vendo que entre elas e eu havia a senhorinha mais velha, uma das moças apressou-se em dizer que a deixariam passar antes delas.

Respondi que como a fila era prioritária para pessoas acima de 60 anos, com deficiência e senhoras grávidas, elas teriam que dar vez também à mim e contei o que havia acontecido com o outro senhor. Terminei dizendo que seria mais prático e educado entrar na fila correta.

A senhora da frente agradeceu e disse que tinha 86 anos. 

Terminada a carraspana e enquanto imaginava que eu, um tiozinho idiota, serei tema de comentários depreciativos no réveillon de alguém, me bateu um arrependimento e pensei:
– “Será que não fui injusto? E se uma delas estiver grávida há umas 12 horas?”