Não, você não leu errado e nem está tendo nenhum problema de coordenação mental.
O título está errado, mas está certo.
Li o texto abaixo pela primeira vez no extinto jornal O Pasquim, provavelmente na década de 70 ou 80. Tenho quase certeza de que é do genial Millôr Fernandes.
Meus filhos eram pequenos e adoravam quando eu o repetia. Com o tempo fui esquecendo e guardei na memória apenas as primeiras frases, mas agora resgatei o texto inteiro.
É uma ótima história para contar para crianças, desafiando-as a “traduzir” frase por frase. Ao final vou colocar também o texto correto:
O Macorvo e o Caco
Andesta na florando um enaco macorme avistorvo um cou com um beço pedalo de quico no beijo.
– “Ver comou aqueijo quele ou não me chaco macamo“, vangloriaco o macou-se de sara pigo consi.
E berrorvo para o cou:
– “Oládre compá! Voçá estê bonoje hito! Loso, maravilhindo! Jami o vais tem bão! Nante, brilhio, luzidegro. Poje que enso, se quisasse canter, sua vém tamboz serela a mais bia de testa a floroda.
Gostari-lo de ouvia, comporvo cadre, per podara dizodo a tundo mer que vocé ê o Rássaros dos Pei”.
Caorvo na cantida o cado abico o briu afar de cantim sor melhão cansua.
Naturalmeijo o quente caão no chiu e fente imediatamoi devoraco pelo astado macuto.
– “Obriqueijo pelo gado!”, gritiz o felaco macou.
E encedendo rroudiz:
– “E a far de provim o mento agradecimeu var lhe delho um consou: jamie confais em pacos-suxa”.
A tradução:
O Macaco e o Corvo
Andando na floresta, um enorme macaco avistou um corvo com um belo pedaço de queijo no bico.
– “Vou comer aquele queijo ou não me chamo macaco”, vangloriou-se o macaco de si para consigo.
E berrou para o corvo:
– “Olá compadre! Você está bonito hoje! Lindo, maravilhoso! Jamais o vi tão bem! Negro, brilhante, luzidio. Penso que hoje, se quisesse cantar, sua voz também seria a mais bela de toda a floresta. Gostaria de ouvi-lo, compadre corvo, para poder dizer a todo mundo que você é o Rei dos Pássaros.”
Caindo na cantada, o corvo abriu o bico a fim de cantar sua melhor canção.
Naturalmente o queijo caiu no chão e foi imediatamente devorado pelo astuto macaco.
– “Obrigado pelo queijo” – gritou feliz o macaco.
E encerrou dizendo:
– “E a fim de provar o meu agradecimento vou lhe dar um conselho: jamais confie em puxa-sacos”.