Já estava anoitecendo, chovia forte e ele quase não viu a Senhora com o carro parado no acostamento.
Ele ia devagar e diminuiu ainda mais a velocidade ao ver que ela acenava, então percebeu que ela precisava de ajuda e encostou.
A mulher, que há mais de uma hora esperava que alguém parasse, estava preocupada com o que podia acontecer. Ela não sabia que tipo de gente poderia parar, mas percebeu que o carro que havia estacionado era muito velho e que o homem que desceu estava vestido de forma humilde.
Ele pôde ver que ela estava com muito medo e disse:
– “Eu estou aqui para ajudar, madame, não se preocupe. Por que não espera dentro do carro, onde está quentinho? A propósito, meu nome é Renato”.
Tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma Senhora de certa idade era ruim o bastante. Renato abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Enquanto ele fazia isso, ela baixou o vidro e falou que só estava de passagem por ali, e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda.
Ele já estava colocando o socorro no lugar, e quando terminou, colocou o pneu furado no porta-malas e recomendou que ao passar por um posto mandasse consertá-lo.
Ela percebeu então que ele estava molhado, sujo e que havia ferido uma das mãos. Assim mesmo Renato sorriu enquanto se aproximava e ela aproveitou para perguntar quanto lhe devia, dizendo que não imaginava tudo de ruim que poderia ter acontecido se ele não tivesse parado para ajudá-la.
Renato respondeu que não fazia aquilo por dinheiro, gostava de ajudar as pessoas, era seu jeito, seu modo de viver, e completou:
– “Se quiser me pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê para esta pessoa a ajuda de que ela precisar” – e acrescentou: – “e lembre-se de mim”.
Tinha sido um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem porque estava indo para casa, então esperou que ela saísse, embarcou em seu carro e desapareceu no crepúsculo.
Poucos quilômetros adiante, a Senhora parou seu carro em um posto, pediu que o pneu fosse consertado, e vendo que ali havia um pequeno restaurante, entrou para comer alguma coisa.
Era realmente um lugar muito simples e tão logo a viu entrar e percebeu seu estado, a garçonete veio até ela com uma toalha limpa para que pudesse secar o cabelo molhado. Enquanto falava a moça tinha um doce sorriso no rosto, que nem mesmo os pés doendo por um dia inteiro de trabalho podiam apagar.
A Senhora viu que a moça estava grávida, e sua experiência como mãe e avó dizia que estava já perto de ter o bebê, mas também percebeu que ela não deixou o cansaço e as dores mudarem seu jeito de ser. Nesse momento ela pensou em como alguém que visivelmente tinha tão pouco podia tratar tão bem à um estranho e, é claro, lembrou de seu recente encontro com Renato.
Depois que terminou a refeição, e enquanto a garçonete buscava o troco, a Senhora se retirou.
Quando a moça voltou à mesa e não a encontrou, notou algo escrito no guardanapo e viu, dentro dele, 5 notas de R$ 100,00.
Lágrimas encheram seus olhos, quando leu o que ela escreveu.
Dizia:
– “Não preciso do troco, eu já tenho o bastante. Fique com ele e com o que estou deixando aqui. Alguém me ajudou hoje e, da mesma forma, estou ajudando você. Se realmente quiser me agradecer, não deixe este círculo de amor terminar aqui, ajude alguém.”
Naquela noite, quando a garçonete foi para casa, seu marido já estava dormindo. Ela deitou ao seu lado e ficou pensando no dinheiro e no que a Senhora deixou escrito. Como ela pôde saber como ela e o marido precisavam daquele dinheiro? Eles ainda tinham que comprar muitas coisas para o bebê que devia nascer no próximo mês.
Deu um grande sorriso, agradeceu a D’us, virou-se para o marido que dormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou:
– “Tudo ficará bem! Eu te amo, Renato!”