Dois anjos no Colégio Estadual

Carlos Thiago Gonçalves de Ferrante foi um amigo muito, muito especial, talvez o melhor de toda a minha vida.

Infelizmente partiu muito cedo, dias antes de completar 56 anos.

Nos conhecemos jovens, no Colégio Estadual. Ele era um pouco mais novo do que eu e ambos fazíamos o Científico, o Ensino Médio da época, em salas separadas.

Não lembro como nos encontramos, só sei que a amizade logo virou uma relação fraterna.

Muitos pensavam que éramos irmãos, o que realmente passamos a ser depois que morreram meus pais e irmãs. Com a cabeça virada, a casa dele virou o lugar onde me refugiava quando a angústia sufocava o coração e fazia a dispneia funcionar.

Aliás, no quesito ‘porto-seguro’ fui afortunado, tive dois; o outro era a casa da Peggy Paciornik. Um dia vou falar sobre isso.

No Capanema a Da. Lourdes e o “seu” Fernando me acolheram como filho. Os anos passaram e quando eles mudaram, primeiro para a casa da Benjamin Constant e depois para o apartamento da João Gualberto, continuei tendo acesso às inesquecíveis bacalhoadas da família. Eles se foram, mas ficaram para sempre no meu coração.

No Colégio Estadual o Thiago e eu fazíamos tudo, menos estudar. A minha rebeldia tinha explicação, já a dele só pode ser debitada ao equívoco na escolha do melhor amigo.

Nossa disposição para o estudo era inversamente proporcional ao pendor para a safadeza. Granjeamos tamanha e tão justificada fama que um dia um Professor que tínhamos em comum me advertiu dizendo:
– “O senhor se comporte. O seu irmão já me incomodou muito, hoje.”

Certa ocasião o Colégio decidiu identificar as árvores com os nomes científicos, colocando placas no gramado onde estavam plantadas. Como a mente desocupada é a oficina do capeta, seus auxiliares, o Thiago e eu, vimos nisso uma oportunidade.

O “seu” Fernando tinha um grande escritório de representações, especializado no ramo de materiais de construção, ferramentas e ferragens. Uma dessas representadas fabricava cadeados, e o Thiago passou a tirar peças do mostruário, que levava para o Colégio.

Ao lado do estacionamento de automóveis havia um pequeno arbusto, e começamos a prender os cadeados nos pontos onde havia uma “forquilha”, de tal forma que não podiam ser tirados.

Em poucos dias o tal arbusto estava cheio e chamando a atenção de todos. Depois de terminada a “obra” colocamos uma placa onde escrevemos “Cadeadus Vulgaris – família das Cadeadaceas”.

No dia seguinte o arbusto amanheceu serrado.

One thought on “Dois anjos no Colégio Estadual

  • Guilherme Beltrão

    Suas lembranças reavivaram as minhas!
    Fui também um "anjo" no colégio.
    Bela história.
    Abraço.

    Responder

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