Em Israel, o Milagre no Ônibus

O artigo que reproduzo abaixo foi publicado no jornal The Times of Israel em 27/03/2016 e me foi enviado por meu filho que reside em Tel Aviv.

É muito emocionante e conta história ocorrida poucos anos após o término da 2ª Guerra Mundial e do Holocausto:

O Milagre no Ônibus Dan 4

Era um dia muito quente em julho de 1951. Eu estava em Tel Aviv e estava quente demais para andar. Entrei no ônibus Dan 4 na esquina das ruas Ben Yehuda e Gordon.

O ônibus estava muito lotado e não havia lugar disponível. Eu tive que sentar ao lado de uma mulher iemenita segurando uma galinha viva debaixo do avental.

As pessoas estavam conversando, discutindo com fervor as notícias do dia, cada uma oferecendo uma descrição pessoal da situação política, todos com uma opinião diferente. Como é comum em Israel, toda pessoa se considerava a fonte autêntica de “informação interna”. Um disse: “eu tenho um primo na polícia ele me disse…”. Outro respondeu: “isso não faz sentido. O filho do meu vizinho está no exército e ele estava nos dizendo…”. E na parte traseira do ônibus, um passageiro gritou “quem se importa? Nada vai mudar tão cedo”.

Em cada ponto de ônibus, alguns passageiros desembarcaram e novos embarcaram. Agora havia alguns lugares vazios e sentei em um deles no meio do ônibus.

Quando nos aproximamos de outro ponto de ônibus (não lembro qual esquina), três ou quatro novos passageiros embarcaram. Uma senhora idosa aproximou-se da caixa ao lado do motorista e depositou algumas moedas.

De repente, olhando para o motorista do ônibus, ela deu um grito alto:
“Moishele, Moishele, Moishele, minha criança!”

O motorista pisou no freio, olhou para a mulher e gritou:
– “Mamãe, mamãe, é você, mamãe?”

Ambos eram sobreviventes do Holocausto na Polônia e cada um pensava que o outro estava morto.

Saltando de seu assento, o motorista abraçou a mãe que presumia morta e perdida para sempre, e ambos abraçaram sem se soltar e choraram lágrimas de alegria.

Todos os passageiros bateram palmas. Vários choravam de alegria ao ver mãe e filho se reencontrando. Um passageiro pulou do ônibus e parou um outro ônibus que se aproximava. Ele compartilhou a notícia com o motorista e solicitou que ele notificasse a empresa de ônibus Dan para mandar um motorista substituto. 

Nenhum de nós deixou o ônibus. Um motorista de socorro apareceu meia hora depois. Os passageiros sentados na fila atrás do motorista se levantaram e deram os assentos para a mãe e o filho, ainda se abraçando e chorando com soluços de cortar o coração.

Em algum momento, nosso motorista original e sua mãe deixaram o ônibus, enquanto todos batíamos palmas e os passageiros de língua iídiche gritavam “Mazal tov. Mazal tov. Tzu gezunt. A sach nachas”. (*)

Eu nunca soube para onde eles estavam indo. Provavelmente para a casa do motorista para que sua mãe pudesse conhecer sua esposa e seu novos netos.

Todos nós estávamos tão cheios de emoção que era difícil nos conter. Não havia um olho seco entre os passageiros.

Era um dia quente de julho de 1951. Mas nunca esquecerei o milagre no ônibus Dan 4 naquele dia muito feliz.

(*) Felicidades, Saúde, Alegrias

A matéria no site do jornal (em inglês) pode ser lida aqui.

2 thoughts on “Em Israel, o Milagre no Ônibus

  • Constantino Hristof

    Um grande abraço Gerson Guelman…gosto muito de seus artigos…Constantino Hristof

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    • Gerson Guelmann

      Constantino, para mim é uma honra ter você como leitor! Feliz Ano Novo!

      Responder

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