Um Paciente Vulnerável e o Rosh Hashaná no Hospital

As comemorações do ano novo judaico na minha vida se dividem em três fases distintas.

A primeira é a do período até meus 17 anos, antes do acidente da minha família.
Nessa época as festas eram na casa da matriarca, a vovó Sofia, mãe do meu pai.

Desse ciclo a memória mais marcante é a da mesa de jantar, com um comprimento extraordinário, digno de figurar no Guiness. Claro que isso só foi possível porque a família era proprietária de uma fábrica de móveis.

Eram noites maravilhosas em uma época em que todos viviam no círculo familiar, na base da convivência obrigatória, quando ninguém ousava contrariar os usos e costumes.

A segunda fase foi quando as comemorações mudaram para a casa dos meus tios Nena e Moisés Bergerson. Festas aguardadas ansiosamente, filhos, sobrinhos e primos pequenos, doces lembranças.

Depois disso ficamos limitados a uma ou outra festa, um ano sim, muitos anos não, até que chegamos ao 5780 e à uma experiência insólita.

Tudo começou no meio da semana passada.

Primeiro um pouco de mal estar e uma noite mal dormida. Depois, um dia desconfortável e outra noite insone, com dores musculares intensas. Na sexta-feira, pronto-atendimento bem cedo, quase vazio quando cheguei.

Exames de sangue sugeriram Leptospirose, que só pode ser confirmada por sorologia que demora 7 dias.

Resultado: internação, antibióticos poderosos a cada 12h, reposição hidroeletrolítica e analgésicos, e hoje, no começo do 5780° ano judaico, a 3a noite no hospital.

Aqui os dias se estendem interminavelmente e a rotina hospitalar não dá folga.

Os cuidados são redobrados ao paciente cujas etiquetas no punho lembram que é vulnerável e que não deve levantar-se sem apoio da Enfermagem.

A situação gera um clima propício à reflexão.

Entre uma e outra entrada no quarto dos que cuidam de mim, tempo para descanso, para jogar Paciência, fazer Palavras Cruzadas e agradecer e valorizar o plano de saúde que assegura o atendimento acima da média e a atenção carinhosa e ultra-competente do Dr. José Knopfholz, muito preciso na indicação do tratamento.

Claro que não posso deixar de registrar o carinho da esposa e dos filhos, amorosos e incansaveis.

Hoje, após os festejos de Rosh Hashaná, entraremos nos “Yamim Noraim”, os “Dias Terríveis” que nos separam de Yom Kipur.

De acordo com a tradição judaica, é um tempo de Arrependimento e Reconciliação;

Um tempo para desejar que o nosso D-us único nos enxergue com olhar benevolente e nos dê um Ano Novo melhor do que nossas imperfeições nos fazem merecer;

E, finalmente,

Um tempo para pedir que ele olhe para o Brasil que acolheu generosamente todos os povos e o faça voltar a ser o país que os levou a sonharem e fazerem a travessia.

3 thoughts on “Um Paciente Vulnerável e o Rosh Hashaná no Hospital

  • lupercio

    Muito bom e o Brasil vai passar por um período que necessita de orações, as coisas lá fora não estão boas, há perigo de recessão global, infelizmente.

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  • Marli

    E dizer q há dois dias você estava bem. Melhoras muito rápidas e q seja o suficiente para muitos e muitos anos. Abcs

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  • Marcos L Susskind

    Lindo texto.
    Shaná Tová com MUUUUIITA saúde

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