Alckmin e Janja, as Redes Sociais e o Salto no Escuro

Recebi por WhatsApp um desses “memes” que circulam após acontecimentos de destaque na mídia, seja qual for a natureza do assunto. 

O de agora tem relação com a política e explora a situação criada com a viagem da esposa do Presidente ao Rio Grande do Sul para visitar a região afetada pelas inundações.

Na impossibilidade do Lula viajar, esperava-se que o vice Geraldo Alckmin fosse inspecionar os estragos; como foi “atropelado” por ela, a oposição foi rápida na exposição do provável constrangimento de quem passaram a chamar “o suplente da Janja”.

Os memes foram certeiros e isso me fez lembrar uma das minhas experiências nessa área.

Eu acompanho essas coisas desde que fiz a primeira campanha eleitoral, no distante 1982. E antes que perguntem: não sei quantas foram, só parando para contar, “mas sei que já ganhei e já perdi, e ganhar é melhor”… 

Alguns desses acontecimentos tiveram alto poder destrutivo, mesmo em tempos sem celulares, redes sociais, etc., e mostravam a criatividade dos profissionais de marketing eleitoral que dispunham apenas do “boca-a-boca”, da panfletagem, dos outdoors e dos programas eleitorais, com as limitações técnicas e do TRE. 

Dá para dizer que as redes sociais eram os botecos, as conversas nas esquinas, salões de beleza e barbearias, taxistas, comerciantes, etc. No máximo, desde que assunto “não ofendesse a moral” e nem contrariasse o TRE, podia ser aproveitado nos programas eleitorais de rádio e TV.

Digo isso porque nem sempre era possível usar a inventividade, já que qualquer escorregadela mobilizava o Jurídico do adversário e podia resultar no horror das Coordenações: o temido “direito de resposta” com a perda do precioso tempo dos programas eleitorais. 

Hoje a instantaneidade dos meios de comunicação pelos celulares faz com que fatos reais e inventados se espalhem sem controle, muitas vezes gerando problema seríssimos.  

Claro que as “fake news” já existiam (não com esse nome, claro) mas pelas mesmas razões a repercussão delas era igualmente limitada. 

Em 1982, quando “debutei” em campanhas, aconteceu um desses fatos, que entrou para os registros da política paranaense como uma verdadeira jogada de mestre, pelo oportunismo e rapidez da ação. 

Naquele ano foram realizadas as primeiras eleições diretas para Governadores dos Estados depois da instauração do regime militar.

No Paraná os candidatos mais fortes eram José Richa do PMDB e Saul Raiz da ARENA, em cuja campanha trabalhei. Registro que meu batismo foi desastroso, já que perdemos a eleição.

Nossos marqueteiros criaram um outdoor com fundo preto e letras brancas “em caixa alta” com a frase “Saul Raiz ou um salto no escuro”, o que dava uma grande visibilidade.

Foi um desastre.

Na primeira noite os militantes adversários foram aos pontos onde estavam os out-doors, colocaram uma vírgula depois de RAIZ e cobriram o OU, resultando em um “meme” fenomenal:
SAUL RAIZ, UM SALTO NO ESCURO”.

Com uma escadinha, um balde de tinta preta, um de tinta branca e um pincel, derrubaram nossa criatividade.

Coisas da política que fazem rir, como essa que envolve o Vice-Presidente.

p.s.: para facilitar a leitura, transcrevo o que a pessoa publicou no aplicativo “X”, antigo Twitter:
“Imagine o que deve ser para um político: governar São Paulo várias vezes, concorrer à Presidência e terminar a carreira como suplente da Janja. Parabéns, Geraldo”.


Foto: Unsplash

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